As imagens da pista de um aeroporto tomado por cidadãos em desespero, os corpos que caem para o abismo desde os aviões que conseguem descolar e os guerreiros armados de metralhadora no palácio presidencial de Cabul devia chegar para suscitar um rebate de consciência entre o extremismo encartado e o antiamericanismo básico. Mas não. Pelo contrário.
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A perseguição às mulheres e às minorias étnicas ou a destruição bárbara dos valores culturais de uma civilização milenar fazem-nos questionar onde estarão as Catarinas, as Anas Gomes, os Mamadous e os Boaventuras perante a tomada do Afeganistão pelos terroristas islâmicos talibãs. Onde andam agora os defensores dos direitos humanos e da liberdade dos povos? Entre a vergonha silenciosa, que se percebe, e o apontar de responsabilidades aos dirigentes políticos ocidentais, que é demagógico, a internacional extremista não concede margem para dúvidas nem para a autocrítica.
Os biliões de dólares e de euros despendidos e as largas dezenas de milhares de soldados, incluindo centenas de portugueses - convém recordar - alocados durante anos à estabilização afegã deveriam, ainda assim, merecer respeito. Mesmo e sobretudo por parte de quem não concorda com intervenções da NATO. É que foi graças a este esforço de paz que foi possível neutralizar a al-Qaeda, conter o terrorismo à escala global e contribuir para alguma paz no Mundo.
Não pode existir condescendência, contexto ou justificação para o fanatismo talibã e as suas atrocidades sem nome. Há uma substancial diferença, contabilizada em mortes e em atos terroristas, entre o histórico dos guerreiros e o suposto "romantismo" de um Khadafi, de um Arafat ou de um Fidel. Supor que os talibãs vão depor as armas e procurar inserir o Afeganistão na comunidade internacional equipara-se a acreditar na prosperidade da Coreia do Norte ou no vigor democrático da Venezuela.
O Afeganistão vai voltar a ser terreno fértil e adubado para o terrorismo islâmico. Daqui a três semanas, cumprem-se 20 anos sobre o 11 de setembro. É preciso ter memória.
Empresário e presidente da Associação Comercial do Porto