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No “Auto da Barca do Inferno” diz o diabo: "Põe bandeira que é Festa!". E, país fora, cidades, vilas e aldeias têm seguido tal exortação, porque a Festa é a essência da sua identidade. Da sua tradição. O mesmo sucedia no Porto, onde havia festas em todas as freguesias.
E não só as de natureza religiosa. Porque existe outra dimensão, introduzida pelo liberalismo: as festas cívicas como as dedicadas à Revolução de 1820, à Expulsão dos Franceses, ao Juramento da Constituição, do 1.º de Maio, do 31 de Janeiro, da Árvore e outras.
Hoje esquecidas, realizavam-se grandes romarias à Sª. da Saúde, no Bonfim, Sª. do Porto, em Ramalde, Sª. da Luz e Senhor dos Navegantes, na Foz, Sª. da Ajuda, em Lordelo, Sª. da Silva, na Vitória. E outras, até ao Senhor do Padrão, no Carvalhido, lamentavelmente extinta. E nem é preciso ser católico para perceber a importância destas manifestações na coesão cívica da comunidade, na participação da população num projecto comum, na assunção do seu património, na defesa da sua tradição.
Por tudo isto, quero enaltecer a atitude da Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos na manutenção da Festa de S. Telmo, no dia 13 de Abril. Ela reveste especial atractividade e poderia constituir um factor de afirmação da cidade (porque diferença e carácter também se exportam). Falo da Procissão Fluvial desde o Cais da Afurada até ao da Alfândega, seguida da terrestre, até à Igreja do Corpo Santo onde decorrerá o momento mais invulgar: a Distribuição do Pão de S. Telmo.
Este é o Porto essencial, que permanece. O Porto profundo que se recusa a perder a alma.
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)