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"Estamos no ano 50 a. C. Toda a Gália está ocupada pelos romanos… Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses resiste agora e sempre ao invasor". Não há quem não conheça a frase que abre os álbuns do Astérix. Adaptada aos tempos que correm e à realidade nacional, teria de conhecer uma nova redacção: "Todo o país aperta o cinto... Todo? Não! Uma região insular resiste agora e sempre...".
A região insular é a Madeira. Graças ao - mais do que justo - regime de excepção de que usufrui, tal como os Açores, tornou-se mais rica do que a média nacional. O seu PIB atinge 98% da média da União Europeia. Deveria agora abdicar de apoios, para que o Estado ajude regiões mais pobres.
Sucede que o "Astérix", Alberto João Jardim, recusa apertar o cinto. Pelo contrário: "agora e sempre" (ou melhor: como sempre) exige mais dinheiro. A diferença é que, outrora, furava ciclicamente os limites de endividamento e, agora, quer engordar o orçamento à conta de uma alteração à lei. Enquanto vitupera o "colonialismo" do Governo da República, táctica velha e relha, mas quase sempre eficaz.
Como nas histórias do Astérix, Jardim não "resiste" sozinho. Ao longo de três décadas, contou com cúmplices. Acima de todos, o PSD nacional (a excepção foi Cavaco Silva, que como primeiro-ministro lhe travou a voracidade). Mas também governos socialistas como o de António Guterres.
Desta vez, tem mais cúmplices. Cá, a Oposição parlamentar, em convergência estratégica de ocasião para de novo isolar o Governo de Sócrates. Lá, quase toda a Oposição, que sem coragem para dizer aos eleitores que chegou a vez de a Madeira partilhar o esforço nacional de recuperação económica aplaudiu a proposta de revisão da lei das Finanças Regionais apresentada pelo PSD de Jardim (só o PND votou contra, enquanto o Bloco se absteve).
Percebe-se os danos que estas atitudes causam à solidariedade entre as regiões do país - consolidando a ideia de que Jardim sempre que chora... mama - e à imagem de coerência que era suposto os políticos preservarem. Não é que o PS nacional se opõe à revisão da lei que o PS madeirense defende? Viva a autonomia!