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Estão os meus leitores enganados se pensam que eu venho aqui falar do estudo revelado, esta semana, pelo professor britânico da Universidade de Cambridge, David Spiegelhalter. Aí, as conclusões são alarmantes: a atividade sexual dos casais ingleses está a diminuir drasticamente. Caiu 40% nos últimos 20 anos e, a manter-se este ritmo, em 2030 os casais viverão na abstinência. Reparem, o estudo só fala em casais...
O que me traz aqui é o problema do divórcio, mas o grande, do Reino (ainda) Unido perante a União Europeia, casamento tardio e só por interesse.
A separação de bens está prevista. Percorrem-se, um a um, aqueles 49 artigos complicadinhos do Tratado de Maastricht, onde se regulamenta a admissão de noivos aderentes numa Europa habituada a crescer, e chega-se ao 50. Muito vamos ouvir falar deste artigo 50!, o tal, escrito para nunca ser aplicado e basicamente inútil.
Primeiro, não há prazo para iniciar o processo de divórcio, de modo que o Reino Unido pode atrasar o tempo que quiser o início das negociações. E usar o atraso em seu favor, especialmente se a turbulência dos mercados de capitais acabar por atingir mais severamente a Zona Euro do que a City, o coração financeiro britânico.
Em segundo, o artigo 50 nada diz sobre as futuras relações do Estado que se vai com a União Europeia que fica, detalhe essencial para as negociações que se avizinham. É certo que Bruxelas pode exigir uma negociação escalonada, por fases. Aceitar a separação, mas só depois de um acordo de comércio. Acontece que tal negociação não só atrasa a retirada, como o Reino Unido não vai assinar nada sem saber o que virá a seguir.
E, em terceiro, o artigo 50 é omisso quanto à hipótese de uma retirada hostil, o divórcio litigioso, no caso de o Reino Unido ser tentado a organizar uma guerrilha institucional e usar o resultado do referendo para uma "retirada unilateral", sem tratado que regule sequer a separação de bens. E, neste caso, não há letra de lei e ninguém sabe o que fazer. Pior ainda: o artigo 50 não diz nada sobre um cenário em que o Estado que sai tenta salvar "as joias e porcelanas", e lançar um ataque contra os que ficam. A City capitalista e seus batalhões mediáticos, com ramificações em todos os centros financeiros do Mundo, não perderão a oportunidade de apontar o dedo ao vizinho: o euro. E esse cenário pode já ter começado.
Isto está feio, e hoje é dia de eleições em Espanha, em risco de fragmentação. A União Europeia é um casamento à beira do naufrágio. Mas não conhecemos divórcios perfeitos.
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