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A Associação Nun"Álvares de Campanhã foi fundada em 1934 e, desde então, constitui uma referência daquela freguesia. O melhor que posso dizer é que, sem ela, o país e, sobretudo, o Porto seriam muito piores.
O seu salão de festas serviu de palco para iniciativas do projecto municipal (não sofro do fígado e posso dizer bem), chamado "Cultura em Expansão". Coube-lhe, em Julho, apresentar a peça teatral "Uma Rua de Cada Vez", escrita a partir de um episódio da vida real, por Mariana Correia Pinto e interpretada (tão bem, como já há muito não via) pelos actores da Narrativensaio.
Peça de fôlego, durante 100 minutos interpela-nos acerca dos problemas da cidade. Fazendo do teatro arma de intervenção política, somos colocados face ao que queremos para o futuro do quotidiano urbano. Se um turismo descontrolado, convertendo bairros operários em "resorts" de luxo, ou políticas de conversão dos vazios em habitações para que o Burgo se imponha pela qualidade de vida. Tudo sugerido quando a proprietária de uma ilha (contra tudo e todos) rejeita a oferta milionária de um empreendimento turístico e resolve reabilitá-la para condomínio social.
No turbilhão contraditório de sentimentos sobre o que fazer assaltou-me uma estranha sensação de contentamento (ou, quem sabe, felicidade): num grupo apoiado por programas oficiais e numa iniciativa do município, a crítica ao Sistema era incisiva, acutilante. E no calor tórrido do Verão no Vale de Campanhã, pressenti espécie de aragem breve, leve e confortável chamado Viver em Liberdade. Ou, melhor, Viver em Democracia, sem travas na Língua.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia