Nos tempos em que calaceiro era calaceiro, manguela era manguela e parasita era parasita (com o mundo baralhado é mais difícil distingui-los), quem conseguia trabalho começava cedo. Alguns lutavam bravamente pelo pão nosso de cada dia e desprezavam os acima identificados.
Corpo do artigo
Para meu pai, que trabalhou no duro a vida inteira, abaixo de cão havia duas categorias: madraços e caloteiros. O resto passava. Do mesmo quilate é o grijoense emérito, portista visceral e leitor do JN desde que se conhece, Senhor (com letra grande e por extenso) José Correia. Foi moço de lavoura, de trolha, de padeiro e de caixeiro. De operário corticeiro e de armazém chegou a prestigiado e premiado mediador de seguros.
Discriminando: "Nasci ali em cima, na Quinta do Sr. Américo Oliveira, lugar do Lourinho de Cima, em 1934. Com 5 anos fui para moço de lavoura, para casa do Ti Zé Vermelho, no lugar da Porfia, com 6 anos fui para moço de trolha em Silvalde, indo a pé, de madrugada e vindo à noite. Em 1944 faltou o cimento e mandaram-me embora. Como queria ir para a Escola, fui matricular-me. Perguntaram-me pela cédula, mas não sabia o que era, nem havia lá em casa. Em Outubro, lá fui. Mandaram-me ler e escrever e como sabia fui para a 2.ª classe. Fiz a 3.ª e fui para moço de padeio, em Paços de Brandão. Em 1961 era caixeiro e fiz a 4.ª classe, sem andar na escola. Foi muito bom, tanto mais que, em 1955, em Lisboa, no Quartel da Graça, cheguei a Ecriturário Militar. Tudo muito bom para recordar".
E aqui têm como a dignidade do trabalho faz a diferença entre melhorar o mundo e ver passar os comboios.
* Professor e escritor
O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA