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Era bem melhor o tempo em que futebol era o "Domingo Desportivo" a fechar o fim de semana. Havia sotaques variados dos correspondentes, ao intervalo fazia-se uso de maus trocadilhos com o estado do tempo, a emoção do jogo e o ambiente nas bancadas, e tudo resultava em resumos eficientes dos jogos: principais lances, golos e adeus até para a semana.
Não havia debates infindáveis sobre colocações de blocos, não havia conversas aborrecidas entre especialistas que nunca deram um chuto numa bola, não havia longas sessões de gritos sobre o nada.
Pouco me importa se antes havia menos escrutínio e, por isso, campo mais aberto para eventuais abusos. Nada daquilo era muito importante e não passava, com mais ou menos intensidade, de um divertimento coletivo, culminado de alegrias e tristezas efémeras.
Tudo mudou entretanto. O futebol era um saudável vício nacional e transformou-se no insuportável suplício de Portugal. Lama atirada para todo o lado, casos judiciais, histeria permanente, desconfiança, suspeitas, confusão, motins, desordem organizada e, pior do que tudo, a omnipresença desta loucura minoritária que sequestrou o espaço público e o tornou refém do irracional.
O futebol em Portugal cresceu como uma doença, um cancro nacional, lamentável e triste, digno de dó e de um constrangido encolher de ombros, como quem espreita pela janela de um hospício.
*JORNALISTA