<p>1. O primeiro-ministro ligou, no fim-de-semana, os resultados das próximas eleições para o Parlamento Europeu à avaliação, pelos eleitores portugueses, da "performance" do seu Governo. Numa acção de campanha ao lado de Vital Moreira, candidato socialista, José Sócrates disse o seguinte: "De cada vez que o PS passa pelo Governo melhoram as políticas sociais e tudo isso está em jogo, também, nestas eleições". Está? Não, não está. </p>
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Citemos o próprio Vital Moreira para perceber por que razão não está uma coisa ligada à outra: "Tal como as eleições nacionais versam sobre o Governo e as políticas a nível nacional, também as eleições europeias devem versar sobre o Governo e as políticas europeias, devendo por isso haver uma clara identificação das opções europeias que cada partido defende".
A citação, retirada do blogue em que Vital Moreira participa (www.causa-nossa.blogspot.com), mostra alguma contradição entre o candidato e o primeiro-ministro? Mostra, de facto. Mas esse não é o ponto mais relevante. O que, sobretudo, interessa perceber é o motivo pelo qual está José Sócrates interessado em pedir aos eleitores que, na hora de votarem para as europeias, tenham em conta o desempenho do Executivo, coisa que normalmente fica a cargo dos partidos da Oposição.
O facto seria fácil de entender se os dias corressem de feição ao Governo socialista. Aí faria todo o sentido que o primeiro-ministro puxasse dos galões. O que tenta, então, Sócrates? Tenta que, recorrendo à linguagem futebolística, o "povo" lhe mostre já o cartão amarelo, como resultado das enormes dificuldades com que hoje se debate no seu quotidiano, e não o guarde para as eleições seguintes. Até às autárquicas e às legislativas pode ser que a economia se componha um pouquinho (nos EUA, o presidente Obama vai libertando pequenos sinais positivos). Se assim for, o "povo" terá a alma menos estremunhada e a sensação de que já cumpriu a sua missão, ao punir o Governo nas eleições europeias. Sem grandes alternativas à Direita, será mais fácil optar pelo que já conhecem.
É uma táctica de risco elevado, porque, se a vida dos portugueses piorar ainda mais, pode acontecer que a um amarelo se suceda outro amarelo. E dois amarelos dão um vermelho. Logo, uma expulsão.
2. Carlos Queiroz é, como se sabe, amado por uns e detestado por outros. Está longe de fazer o pleno entre os adeptos de futebol. Os últimos resultados da selecção (a incapacidade para bater a Suécia, equipa de qualidade muito inferior à nossa, foi confrangedora) colocam-no também a ele muito perto de ser "expulso" por acumulação de amarelos. A sua margem de manobra é mínima.