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A pergunta é: as regiões estão a ser prejudicadas no plano dos novos fundos comunitários 2014/2020? E a resposta é: tudo vai depender da passagem da teoria à prática. Estamos, assim, perante uma dupla expetativa: a de que o Governo honre a letra do Acordo de Parceria com Bruxelas e providencie para que os agentes e mecanismos de seleção e distribuição dos 21 mil milhões de euros sejam bacteriologicamente puros, ou seja, representem sem dúvida os interesses públicos e privados das regiões, em especial do Norte, Centro e Alentejo; e a de que nestas regiões, que têm um percurso de convergência a fazer para atingirem a média europeia, não prevaleçam as rivalidades bairristas alimentadas em amiguismos dos aparelhos partidários, que têm sido, afinal, as grandes correias de transmissão das decisões mais centralistas da história da nossa democracia.
Poderão os dois mil milhões de euros disponíveis até 2020 curar a "miopia política" e ajudar a "conceber uma política de território", como refere Silva Peneda no Barómetro JN da Sustentabilidade [ler na página 32] e combater o drama deste país "dividido por uma linha longitudinal que separa o litoral de uma faixa interior que caminha para se transformar num deserto"?
Dois ex-ministros da Finanças respondem cuidadosamente a partir do seus próprios patrimónios políticos de encantos e desencantos, aguçados porventura por memórias indeclináveis de peripécias da governação: para Teixeira dos Santos, mais decisiva que o enunciado do Acordo de Parceria será a capacidade das regiões para desenvolver projetos e mobilizar os recursos disponíveis; por sua vez, embora dando todo o crédito às garantias de Emídio Gomes, Miguel Cadilhe exprime uma desconfiança que parece emergir do fundo da história e deseja que o presidente da CCDR-N "não seja enganado pela astúcia dos burocratas e políticos do nosso centralismo".
Por este mesmo diapasão afina o presidente da Associação Empresarial de Portugal. Dando de barato que a alocação de fundos prevista no Acordo de Parceria é em teoria boa para as regiões, José António Barros sublinha que "outra coisa é a gestão e a alocação efetiva desses fundos a entidades e empresas sediadas nas regiões".
Neste barómetro JN da Sustentabilidade Social, todas as respostas parecem, afinal, filhas da ideia de que o Poder Central não nos dará nada que não consigamos conquistar por direito próprio. Cristina Azevedo pensa que, havendo dinheiro para a convergência, cabe às regiões obtê-lo, António Marques defende que isso só acontecerá com pressão política e Pinto da Costa previne para não acreditarmos num Pai Natal a distribuir dinheiro pelas regiões, fazendo diferente do que sempre aconteceu.
Não falta muito para sabermos...