Nos últimos tempos tem-se falado muito das remunerações dos gestores de empresas portuguesas, mais precisamente do valor dos prémios que os executivos recebem em função do desempenho das empresas que administram. Estão, neste momento, cotadas na bolsa portuguesa cerca de 70 empresas, de dimensão muito distinta, desde a SAD do Braga e outras empresas pouco conhecidas até aos principais bancos, à GALP, à PT ou à EDP. Vamos admitir que os respectivos conselhos de administração têm todos sete elementos executivos, como no caso da eléctrica portuguesa. Consideremos ainda que, em média, o prémio anual recebido por cada um daqueles gestores é de 200 mil euros. Muito dinheiro mas, quase de certeza, acima daquilo que, em média, será pago, nomeadamente em 2008, um mau ano para a generalidade das empresas. Se multiplicarmos isto tudo chegaremos a um valor à volta dos 100 milhões de euros, outra vez fazendo as contas por cima. Imenso dinheiro. Suficiente para que haja quem o considere um exagero e se proponha apropriar 75% dele. Uma medida popular, nesta altura, sobretudo num país de invejosos. E de distraídos.
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Na verdade, os deputados sabem, certamente, que 125 são mais do que 100. Não sei se 125 lhes sugere alguma coisa? Dou uma ajuda: em milhões de euros, era o valor previsto para o primeiro prémio do Euromilhões da semana passada.
Admito que se discuta o papel dos executivos na obtenção dos resultados das empresas. Concordarão comigo, porém, que há-de haver maior mérito do que aquele que existe em acertar no Euromilhões. E se o problema não é o mérito mas tão-só o valor recebido, considerado escandaloso pelos promotores da proposta de lei, não se percebe que seja mais grave ganhar dinheiro trabalhando do que ao jogo. Fica a sugestão: que tal aumentar o imposto sobre o jogo? Se o prémio sair em Portugal, conseguirão, numa só semana, o que almejavam com a tributação dos gestores num ano. E, já agora, tal como com os gestores, impeçam o anonimato de quem ganha. Para que não se diga que há dois pesos e duas medidas. A não ser que o objectivo seja mesmo esse: não tanto acabar com os ricos, mas com os incentivos para que as empresas sejam bem geridas.
Lição para os executivos: é melhor irem jogando na lotaria!
P.S. : Na sua entrevista a este jornal, José Sócrates volta a invocar as conclusões de um famigerado estudo da ANA para fundamentar a sua (mudança de) opinião quanto à gestão do aeroporto Sá Carneiro. Sugiro ao PM que, por uns minutos, vista a pele de um vulgar cidadão e procure encontrar o referido documento. Pode começar pelo sítio da ANA. E, depois, procurar em toda a net. No primeiro não encontrará nada. Na net encontrará umas notícias dispersas, referindo um estudo que, para além de alguns membros do Governo, nunca ninguém viu (não chamo estudo a um comunicado de Iimprensa). Tal como nunca ninguém viu as contas especializadas do aeroporto do Porto. Que têm de existir para que o PM possa dizer, tão enfaticamente, que o aeroporto do Porto é o principal beneficiário de a gestão dos aeroportos se manter centralizada (o "centralizada" é meu - o PM fala, civilizadamente, em "gestão conjunta"). Não se admirará que, sem esses dados, desconfiemos de a esmola ser tão grande...