<p>No domingo passado fui com as minhas crianças ao Jardim Zoológico. Acho que a última vez que lá entrei ainda havia um professor ("de cor", como me lembro de então ouvir dizer às minha tias) que ensinava a miudagem toda a andar de patins. Estava um calor de torrar as meninges, e a fila para a bilheteira tinha mais de um quilómetro. Estive quase tentada a propor que desandássemos dali e fôssemos apanhar sol para o Fun Center do Colombo - quando me apercebi de que a fila avançava vertiginosamente. Em menos de um quarto de hora estávamos todos lá dentro, a louvar a simpatia da menina que nos calhara no guichet e que, mesmo no meio daquela multidão, e a escorrer suor, coitadinha, ainda tinha conseguido sorrir, e lançar uma piada a um dos meus netos, que levava uma t-shirt a dizer "Benfica, minha vida!" Estávamos, por isso, muito bem-dispostos. </p>
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E bem-dispostos continuámos na visita guiada dentro do minúsculo comboio, com a guia a contar tudo por palavras que as crianças entendiam. E no teleférico, e no reptilário, e nessas atracções todas.
Até que - como era fatal… - deu a fome ao pessoal menor. Dissemos adeus aos bichos, prometemos voltar e apadrinhar um deles, e saímos para o recinto público dos restaurantes. Entrámos no maior e quase vazio, e imediatamente encomendámos o almoço, prato do dia para não demorar. Meia hora depois, sem comida à vista, perguntámos se, pelo menos, não teríamos direito a pão. Deram-nos um minúsculo cesto com duas carcaças - o que, para seis pessoas, nem mesmo a crise justificaria… Meia hora depois, enquanto um solícito fotógrafo nos tirava a fotografia da praxe (e eu já tinha ido buscar mais pão). Perguntámos pelas bebidas, e elas lá vieram. Da comida, nem rasto.
De cada vez que alguém passava, eu perguntava o que tinha acontecido mas todos viravam as costas e desandavam. Quando faltavam dez minutos para se completarem as duas horas de espera (o fotógrafo já tinha vindo com os negativos, já tínhamos escolhido, pago e recebido a foto), bati as palmas e disse: pessoal, vamos embora! E fomos mesmo. "Sem pagar o pão, nem a manteiga nem as coca-colas?", riam as crianças. "Era o que mais faltava!", ria eu em resposta, explicando o mais pedagogicamente que me era possível, que tudo se teria resolvido com uma explicação, mas nunca com o virar de costas como resposta. O Zoo não tem nada a ver com isto, mas é pena: poderia emprestar a empregada que na bilheteira aguenta, horas e horas, com a avalancha dos visitantes e com o calor sem perder o sorriso e a paciência - para dar umas liçõezitas de profissionalismo a quem, pelos vistos, dele está tão necessitado.