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Já na altura do Mundial do Brasil se falou muito da FIFA, a mui respeitada organização do futebol internacional, dirigida por personagens qual deles o mais limpinho e lavadinho. Falou-se, é curioso, pelas menos boas razões. Acusações de corrupção, de arrogância absoluta perante as autoridades brasileiras, que aliás cederam em toda a linha. Pois não haveria de ceder um pequeno Estado como o Brasil?
Há ironia nisto tudo, mas ironia amarga, quando se fala na FIFA mais em Don Blatter, o seu chefe. Ou líder, ou capo di tutti i capi. Sim, é interessante, porque o senhor é suíço. Mas deve ter antepassados latinos, porque quando aparece há ali um cheirinho suave a Sicília e à aldeia de Corleone.
Mas a altura é de festa, não de recriminações. Don Blatter, à frente da organização há 17 anos, foi reeleito. "Coitado", bem o merece, numa semana em que à volta dele, e por obra e graça de um tribunal americano, foram presos vários altos responsáveis da FIFA, acusados de crimes de corrupção de milhões, e milhões. E mais milhões.
Don Blatter está indignado por estar a ser investigado, até considera uma ingerência inaceitável que um tribunal (imagine-se o topete) suspeite de tanta fortuna. Pois claro: ele é o senhor Presidente da FIFA, acima do direito dos estados e ao lado, mas do lado de fora, do Direito Internacional.
Sobre o senhor, mais as suas colossais malandrices, se saberá um dia muito mais, é certo como o destino. Isso será um dia, não agora, para grande dor do senhor Platini, outra belo figurão que sonha em estar onde está Don Blatter e qualquer dia nos dá aulas de ética.
É, assim, extraordinário que uma entidade que movimenta milhares de milhões de dólares se desfaça moralmente aos pedaços à frente dos nossos olhos sem que um Estado, um que seja, diga que já chega de despautério e ponha termo à pouca vergonha.
E o futebol, nisto tudo? Fute... quê?
Deixemo-nos de coisas, se fosse o Presidente de um Estado, até já tinha reunido de urgência o Conselho de Segurança. Mas, não. É a FIFA e Don Blatter. Por isso, ainda arriscamos ouvir-lhe, com uma voz arrastada, um "vou fazer-lhe uma oferta que não pode recusar".
Bem dizia Miguel Apostólio, já no séc. XVII: "é pela cabeça que o peixe começa a cheirar mal".
Ainda arriscamos ouvir-lhe,
com uma voz arrastada, um "vou fazer-lhe uma oferta
que não pode recusar".