<p>1. Os consumidores portugueses fizeram este ano mais compras nos saldos de Janeiro do que no ano passado. Mas, por outro lado, gastaram menos dinheiro do que no mesmo mês de 2008. Os dados da SIBS (entidade que gere a rede de multibanco em Portugal), divulgados ontem pelo "Jornal de Notícias", mostram que, no primeiro mês de 2009, o montante médio por aquisição foi de 40,4 euros, contra 42,1 euros no ano passado. As compras com recurso a cartões multibanco (a maioria) atingiram, em Janeiro, 1,9 mil milhões de euros, o que se traduz numa média diária de compras de 62 milhões de euros. </p>
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Quer isto dizer que, fustigados e assustados pela crise, os consumidores ganharam juízo? Também. Mas não só. É natural que, na hora de comprar, os portugueses façam mais e melhores contas ao que sobra para o resto do mês. Mas muito deste fenómeno tem outra explicação: as lojas foram obrigadas a baixar os preços para valores antes inimagináveis, por forma a conseguirem alguma liquidez. As colecções acumularam-se ao longo da estação, causando sérios problemas nas caixas registadoras dos estabelecimentos comerciais. Nos primeiros saldos, poucos foram os que acederam a comprar. De modo que só restou reduzir as margens de lucro até ao osso, para conseguir algum encaixe financeiro.
Por isso, os portugueses compraram mais artigos gastando menos: porque os preços baixaram para valores ao alcance de mais carteiras. Vem agora o pior: descapitalizados e com sérios problemas de tesouraria, muitos estabelecimentos comerciais não aguentarão, com toda a certeza, mais um movimento deste género. Segue-se o óbvio: mais falências, mais desemprego.
2. A posição de Manuel Alegre dentro do PS começa a ser insustentável. Esquecendo por momentos a diatribe de José Lello e a diplomacia corrosiva de Almeida Santos (repararam como ele fez a distinção entre 'nós' e 'ele'?), a verdade é que a um homem que ergue, a propósito de tudo e de nada, as bandeiras da luta pela liberdade e pela democracia não se pode permitir que se mantenha no PS porque lhe dá jeito e que critique o mesmo PS quando isso lhe dá jeito.
A palavra é essa: jeito. Dá jeito andar de braço dado com o Bloco de Esquerda, de modo a marcar posição à Esquerda? Alegre anda. Dá jeito não ir ao Congresso de Espinho contestar, em sede própria, o percurso e as opções do Governo e do primeiro- -ministro? Alegre não vai. Dá jeito conceder uma entrevista nesse mesmo fim-de-semana para "partir a loiça"? Alegre dá. O deputado-poeta está a usar e a abusar do tacticismo. E isso não é bonito.