Doutoramentos em ambiente não académico
Uma tese de doutoramento pode ser alvo de diferentes entendimentos conforme os domínios científicos.
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Talvez as engenharias ou as ciências da saúde tenham maior aproximação a terrenos mais empíricos e as áreas das ciências sociais e humanas insistam em dissertações mais teóricas. Todavia, tem havido esforços no sentido de acentuar o relacionamento dos doutorandos com o exterior da academia.
A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) tem, neste momento, aberta "uma manifestação de interesse" para acolhimento de doutorandos em instituições não académicas. De 1 a 31 de março, abrir-se-á um concurso para atribuição de bolsas de investigação para doutoramentos em todos os domínios, incluindo esta nova modalidade em que o doutorando está inscrito numa universidade, mas desenvolve trabalho numa empresa ou instituição.
No seu site, a FCT dá exemplos daquilo que considera entidades não académicas: empresas, centros de tecnologia e inovação, entidades de administração pública, hospitais, museus, bibliotecas, entidades reguladoras... Na verdade, qualquer entidade exterior à academia pode acolher no seu seio, mediante candidatura, estes doutoramentos, desde que apresente condições, designando nomeadamente um orientador que fará a ligação com outro pertencente a uma universidade. As vantagens são mútuas, como, aliás, a própria FCT também salienta.
Para as instituições de Ensino Superior, abre-se uma oportunidade para gerar equipas multidisciplinares e intersetoriais, potenciando colaborações e a transferência quer de conhecimentos, quer de experiências práticas. Por seu lado, as entidades não académicas têm a possibilidade de integrar nas suas dinâmicas investigadores qualificados com trabalho que pode trazer inovação e desenvolvimento a determinada empresa ou instituição. No fundo, ganham todos e é isso que um doutoramento deve ser: um momento para fazer a ciência aplicada avançar e, ao mesmo, tornar o país e a economia mais competitivos, mais avançados, mais desenvolvidos.
Numa altura em que começamos a discutir a possibilidade de o Ensino Politécnico outorgar o grau de doutor, dever-se-ia abrir um outro debate, centrado naquilo que deve ser um doutoramento. Sendo sempre de indiscutível qualidade científica e salvaguardando a liberdade de investigação académica, os doutoramentos podem consolidar mais as relações com o meio exterior. Está aqui um modo de fazer crescer o emprego qualificado e minimizar o sentimento de muitos que, terminada a tese, sentem que aquilo que fizeram não é valorizado.
*Prof. associada com agregação da UMinho