Amanhã é dia da quinta e última votação aberta, na corrida de António Guterres à liderança das Nações Unidas. Depois, o jogo decide-se nos bastidores, onde impera o voto dos cinco magníficos do Conselho de Segurança (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e República Popular da China) que têm poder mandatário e de veto entre os 193 países membros. O Mundo está mais incerto e perigoso que nos anos da Guerra Fria. E, num tempo em que à nossa volta se reerguem muros e se cavam desigualdades, havemos de concordar que dormiríamos mais tranquilos sabendo que na sentinela estaria um construtor de pontes.
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O projeto europeu estilhaça e está em "crise existencial" (palavras de Jean-Claude Juncker); a Rússia arreganha os dentes; e a incerteza mora, também, suspensa no desfecho das eleições de novembro nos Estados Unidos. Nem de propósito, na quarta-feira abre em Paris a maior mostra jamais vista da obra de Hergé, o genial criador de Tintin - repórter, aventureiro e trotamundos. Se o belga fosse vivo, vê-lo-íamos decerto colocar na boca repetitiva dos seus personagens Dupond e Dupont que "a situação é grave, mas não desesperada" ou que "a situação é desesperada, mas não é grave".
Na quinta-feira, o presidente Marcelo, regressado de Nova Iorque, reúne os conselheiros de Estado para, pela primeira vez no seu mandato, debater a situação internacional. Faz bem. Porque uma boa parte das ameaças à nossa débil economia depende de fatores que não controlamos, e os riscos estão aí. Ainda que qualquer perturbação exterior não deva servir de álibi para que não façamos o trabalho de casa, o que depende exclusivamente de nós e das escolhas que fizermos.
Do outro lado do Atlântico vem um sinal: A despedir-se da Casa Branca, Obama jogou aquela que é porventura a mais profética cartada da sua presidência em matéria de política externa: trasladou do Mediterrâneo para águas do Pacífico as principais âncoras da força naval americana, prevenindo que esse é o mar do século XXI, e que o centro do Mundo e eixo das relações comerciais já não está na Europa, mas na sua relação com a Ásia. Neste percurso inexorável, a China aparece como o único país com recursos e com capacidade para investir em cooperação para o desenvolvimento. E no seu caminho todos acabaremos por nos cruzar. Faz bem, pois, António Costa em viajar para a China, de 8 a 12 de outubro. Porque a parceria estratégica assinada com Pequim em 2005 ainda só conhece um sentido. E neste lance o primeiro-ministro marca presença no Fórum Macau, a plataforma chinesa para as relações com o mundo lusófono.
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