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O PSD voltou a ser o principal partido autárquico, roubando esse estatuto a um PS em reconstrução, mas que, ainda assim, conseguiu garantir a "medalha de prata" sob a liderança abnegada de José Luís Carneiro. O Chega só podia crescer, uma vez que partia quase do zero e o CDS fez a sua prova de vida ao manter seis câmaras sob a sua alçada exclusiva. Quando a poeira assentar, o Governo AD devia planear o seu percurso rumo às próximas legislativas. O tempo passa a correr e convém que a imagem junto dos eleitores vá muito para além das mexidas pontuais, sobretudo no IRS e nas pensões. Essas medidas extraordinárias dão sempre a imagem de um certo eleitoralismo exacerbado. Houve uma reforma fiscal séria e permanente nos impostos sobre o trabalho? Houve mudanças de fundo na Segurança Social (SS) ou só um regozijo despropositado com as receitas crescentes proporcionadas pelas contribuições dos imigrantes? Nem tudo o que os governos de Luís Montenegro têm feito é fogo-fátuo. Existe, de facto, um grupo de trabalho a pensar numa reforma do sistema da SS, com vista à sua sustentabilidade. Há dois fatores fundamentais que causam alguma apreensão. São simples de explicar, mas difíceis de resolver: apesar dos imigrantes, há mais reformados por cada trabalhador do que no passado e, por outro lado, a economia cresce muito pouco. Se o PIB acelerar mais - 2,3% para 2026 é muito pouco para Portugal, embora pudesse ser aceitável nos países mais ricos da UE -, isso significará que a produtividade subiu e, em princípio, os salários e contribuições das empresas e dos trabalhadores para a SS também. O Governo deve também fazer um esforço crescente para colocar o PRR ao serviço do crescimento económico reprodutivo pelos privados, em vez de apenas financiar infraestruturas que agravam as contas públicas.