A população desempregada reduziu-se em cerca de 66 mil almas, enquanto a população a trabalhar aumentou em cerca de 72 mil, e da conjugação destes dois movimentos resultou, no final do segundo trimestre deste ano, o maior recuo do desemprego nos últimos 15 anos. São números bons mas aos quais o Governo não deu grande ênfase. E percebe-se porquê: a qualidade de parte do emprego ganho, a sazonalidade de outra parte e o previsto efeito recessivo do Orçamento do Estado para 2014 aconselham todas as prudências.
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Noutras circunstâncias, os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística - além do mais, em convergência com anteriores provenientes do Eurostat ou do Instituto de Emprego e Formação Profissional - seriam suscetíveis de ser explorados para incutir na opinião pública um grauzinho superior de otimismo num cenário de ligeira mas segura retoma.
Sim, é verdade que Passos Coelho imprimiu à sua relação com os portugueses um estado de alma dominado pelo sentimento de prudência. Fê-lo desde que foi eleito e, por evidente opção de, também nesse aspeto, se distinguir de José Sócrates, que, recorde-se, teve um fim de governação marcado por uma tenaz negação de pontos negros da nossa economia.
Não creio, porém, que seja essa filosofia original que esteja a ditar o tom modesto das reações a estes dados positivos, e até inesperados, agora divulgados pelo INE. Muito provavelmente, a modéstia das reações governamentais resulta da leitura qualitativa dos números.
É que dessa análise todos podemos constatar que, mais do que os seis mil empregos sazonais do setor do turismo, são os 46 mil absorvidos pela agricultura que, pela sua natureza, devem merecer cuidada ponderação.
Desde logo porque se trata do setor primário, aquele em que os salários ainda são os mais baixos e as relações laborais estão mais perto do perfil da economia de subsistência do que propriamente da criação de valor acrescentado.
Claro que este tipo de análise corre o risco de parecer destituído de bom senso, uma vez que em boa verdade estamos a viver mais perto de uma economia de guerra que de qualquer outra variedade. Ainda assim, não podemos deixar de nos interrogar quanto ao país que almejamos, passada esta tremenda crise.
Nesse sentido, não podemos ficar confinados ao lado A do disco, do que é inevitável fazer. Ou seja: cortes na despesa do Estado, sem esquecer as mais faustosas e resistentes que resultam das famosas parcerias com privados. Também nos deve interessar o lado B, o que devemos fazer para sermos mais competitivos. Ou seja: se o choque tecnológico, que foi desígnio da nação há apenas meia dúzia de anos, está enterrado e passamos a viver do choque agrícola. Ou nem por isso...