O presidente do BES, Ricardo Salgado, confessava há dias, numa entrevista concedida ao diário digital Dinheiro Vivo, nunca ter visto "uma crise tão destruidora" como a que nos atrapalha o hoje e o amanhã. "Não há nada absolutamente garantido", dizia o banqueiro. É um daqueles truísmos impostos pela atualidade que convém termos bem presente.
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Lembrei o poder desta frase quando, anteontem, o mundo voltou a cair sobre a cabeça de Carlos Abreu Amorim (CAA). Tal como a crise, também o candidato do PSD à Câmara de Gaia é devastador quando usa da palavra. Também com ele nada está garantido. Por exemplo: a conquista da autarquia gaiense está em crise, quando há apenas uns meses parecia uma corrida sem obstáculos para o sucessor de Luís Filipe Menezes.
Depois de vergastar em público o ministro das Finanças, o que lhe valeu um ralhete de gradas figuras sociais-democratas, o deputado do PSD decidiu vergastar os benfiquistas, no minuto seguinte à conquista do título pelo seu (e meu) F. C. Porto. Fê-lo através das redes sociais, apelidando-os de "magrebinos" (sic). Nova chuva de críticas, a que CAA respondeu com desculpas.
Quer dizer: em privado e entre amigos, não tem grande mal fustigar assim o adversário recorrentemente perdedor. Sucede, porém, que CAA o fez em público, esquecendo-se, por exemplo, que no concelho de Gaia há muitos, mas mesmo muitos, eleitores benfiquistas. É um pequeno pormenor que não passou pela cabeça do candidato quando disparou a mensagem... CAA não pode aparecer sorridente nos gigantes cartazes espalhados por Gaia a pedir o voto aos locais e, depois, atirar-se assim às canelas de uma parte deles. Trata-se de uma insanável contradição. Acho eu.
O candidato do PSD transformou--se, num ápice, numa espécie de Jorge Coelho da Direita. Coelho era o segurança do PS: "Quem se mete com o PS, apanha", dizia o antigo ministro. CAA está já noutra escala: apanha quem se mete com ele e mesmo quem não se mete com ele. Convenhamos: este candidato é obra!
Para azar de CAA, estas coisas têm consequências. As sondagens mostram, por exemplo, que o caldo está entornado em Gaia. A entrada na corrida de José Guilherme Aguiar baralhou de tal forma as coisas que, nesta altura, está longe de ser um dado adquirido a vitória do PSD em Gaia. Depois dos resultados de Menezes e tendo em conta, com o devido respeito por todos, que a concorrência não assusta, seria, na verdade, extraordinário que a autarquia mudasse de cor.
CAA apresentou-se como o candidato da convergência. Já vai num elevado grau de divergência, apenas e só criada e alimentada pelo próprio. Ou é falta de jeito, ou é, simplesmente, gosto por partir pratos e fazer cacos...