Pouco menos de um mês após o regresso de Rui Rio à cadeira de presidente da câmara, o Porto foi confrontado com uma notícia cuja importância terá sido então relativizada. A 29 de outubro de 2005, a British Airways deixou de voar de e para a cidade, privando-a, e também a todo o norte e centro do país, de conexões privilegiadas ao importante 'hub' da companhia em Londres. Na altura, a transportadora de bandeira do Reino Unido apresentou como um dos argumentos para deixar de escalar a segunda cidade portuguesa (e, provavelmente, aquela onde residia a maior comunidade britânica) o facto de a região não ser um destino turístico. Não era a única verdade. A saída daquele gigante da aviação coincidiu com a chegada de uma intrépida companhia que, à data, poucos levaram a sério. Chamava-se Ryanair.
Corpo do artigo
A "British" precisou de quase 9 anos para perceber que estava errada. Não é a primeira vez que alguém se arrepende de ter abandonado o Porto. No caso, a companhia vai emendar a mão. Mas nem sempre tem acontecido assim.
No próximo dia 30 de março a British Airways vai regressar a Pedras Rubras com uma operação mais modesta de apenas duas ligações semanais a Londres/ Heathrow. Desta vez, o Airbus A319 da BA que aterrar no Porto não vai apenas ver a maior e mais moderna aerogare dos aeroportos nacionais e o seu invejável crescimento de tráfego. Os passageiros do lado esquerdo do avião vão observar igualmente a numerosa frota da Ryanair. A companhia irlandesa de baixo custo foi pioneira a instalar, justamente no Porto, a primeira base estrangeira em Portugal. E o resultado está à vista.
A eleição com valor relativo do Porto com "Melhor Destino Europeu de 2014" não é só fruto de uma campanha, na qual se empenhou Rui Moreira, para levar os cibernautas a votarem online na Invicta. A cidade dinamiza-se dia após dia. Há mais turistas na rua. E estudantes. E imigrantes. Está mais cosmopolita. Está mais viva. E tem cada vez mais Ryanair. Com mais de 30 destinos para a Europa e a crescer, a transportadora ajudou - e de que forma - a colocar o Porto na rota dos destinos turísticos da moda com referências elogiosas a multiplicarem-se pela imprensa de referência mundial.
Os portuenses estão orgulhosos deste prémio e tal sentimento deveria contagiar todos os portugueses. Mas a consolidação do turismo de uma cidade muito à custa de uma companhia aérea volátil tem riscos. O desafio de Moreira deveria agora ser o de criar condições para que a oferta da cidade se expanda ainda mais para outros segmentos reduzindo dependências. E, já agora, tornar atraente aos olhos dos turistas zonas, como a Sé ou Campanhã, onde tantos e tantos portuenses vivem indignamente. Onde subsistem bolsas de pobreza que não nos orgulham. Só nos envergonham.