<p>Dos últimos dias de guerra da educação fica uma única questão: que fazer agora que tudo falhou? Na conferência de Imprensa, Mário Nogueira remeteu para os professores a continuação "da luta" com um cardápio genérico de apelos às escolas para que continuem em instabilidade. Nada mais. Os sindicalistas saíram da malograda última reunião com a tutela derrotados e sem mais propostas.</p>
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Com ingenuidade surpreendente para os homens da luta, tinham aceite ir a um encontro definitivo sem uma agenda clara num ambiente cheio de pré-avisos do Ministério de que não haveria cedências. Sei, por relato em primeira-mão, que foi uma reunião de uma frieza e falta de cordialidade brutais. Esta ambiência, pela mera forma, não traz boas notícias para um sindicalismo que já não pode ir mais para a rua sem correr o risco de ser suicidário.
Mário Nogueira revelou o nervosismo que tudo isto lhe causa, adoptando em conferência de Imprensa uma atitude mimética do comportamento mediático governamental. Insistiu em longas tiradas de discurso inconsequente e sem novidade, não se deixando interromper por jornalistas, refugiando-se em repetições dispersivas e irritantes para todos. O episódio teve o mérito de mostrar em público que o desnorte na educação é total.
Do lado do Ministério, a ausência de flexibilidade transformou um problema técnico importante numa mera questão política que remete directamente para o primeiro-ministro a solução do problema e acabará por ensinar a Maria de Lurdes Rodrigues a lição de Sociologia que Wellington deu depois da vitória de Waterloo. Que só havia uma coisa pior do que perder uma batalha. Era ganhá-la.
A actuação de Sócrates terá de ser uma qualquer de cedência com uma qualquer suspensão do modelo inaplicável que a ministra concebeu. O primeiro-ministro tem de avocar a si este dossier porque o secretário-geral do Partido Socialista não tem já mais saídas. A rejeição frontal da política de educação por Manuel Alegre empurra-o à esquerda, enquanto as ofertas de mediação propostas por António José Seguro fragilizam-no na própria área de Executivo moderado e eficaz onde se tem tentado afirmar. De facto, a proposta de mediação de Seguro desafia e critica a sua liderança em toda a linha. Adicione-se a isto o facto de largas dezenas de milhar de professores serem eleitorado do PS e deduz-se que Sócrates tem um calendário com poucas semanas, talvez mesmo apenas dias, para reagir, senão Cavaco Silva, falando como sempre na terceira pessoa, virá a público manifestar a grande preocupação do presidente da República com o estado a que chegou a educação no país.
O Natal e Ano Novo, quando as boas vontades dos homens com estratégia se congregam, são alturas tão propícias a reflexões destas. Uma coisa é certa, este calendário da acção de Sócrates coincide exactamente com o tempo de vida que resta à actual equipa do Ministério da Educação, incluindo as suas curiosas delegações regionais, cuja inabilidade política e comportamental destruiu por si as imunidades que os três anos de filiação partidária e militância espalhafatosa lhes têm dado. Quem continuará a sofrer com isto é a escola. A escola de onde todos querem sair. Os professores para a reforma e os alunos para a rua. A escola que é a obra conjunta de Maria de Lurdes Rodrigues, Mário Nogueira et al.