A vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições presidenciais de domingo foi inequívoca e por números nunca verificados em Democracia numa primeira volta. O triunfo em todos os distritos, mesmo naqueles que são considerados bastiões de partidos, da esquerda à direita, demonstra que o professor era o único dos candidatos com verdadeira dimensão nacional e aquele que teve sempre um discurso transversal.
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O presidente agora eleito vai provocar grandes mudanças na maneira como tem sido encarado o mais alto cargo da nação e, para já, garante um enorme salto qualitativo quanto ao estilo e quanto à forma. A começar pelo discurso de vitória: a sua substância, clareza de ideias e sentido de Estado representam um "corte epistemológico" no Palácio de Belém. Desde logo, a atitude contemporânea e a abertura de espírito ajudarão seguramente e recuperar a reputação da função presidencial.
A derrota do PS é outra evidência destas eleições. Sem se decidir quanto a quem de facto apoiava (ou não), o partido revelou uma grande fragilidade. Nem Sampaio da Nóvoa (um discurso de grande dignidade na noite de domingo) e muito menos Maria de Belém cumpriram os objetivos mínimos. É a terceira derrota dos socialistas em poucos meses, depois das regionais da Madeira e das legislativas de outubro. É certo que António Costa procurou o mais possível desvalorizar estas eleições e conseguiu, até, baralhar o seu próprio eleitorado natural. Mas uma derrota é uma derrota.
Derrotado foi mesmo o PCP, que perdeu mais de metade dos votos que o partido tinha obtido nas legislativas, o que é alarmante para um partido cada vez mais envelhecido e dependente de um eleitorado com muito passado. Em contraponto, o desempenho de campanha de Marisa Matias foi excelente e, ao contrário do que sucede com o PC, o Bloco de Esquerda parece ser, à esquerda, o partido com um futuro mais promissor. Embora haja alguma mistificação quanto ao resultado: Marisa Matias, tendo uma excelente votação, ficou a mais de 100 mil votos do resultado obtido por Catarina Martins nas legislativas, há quatro meses.
Não valorizaria especialmente o resultado de Tino de Rans. Por muito que se diga que representa a democracia a funcionar, este é o tipo de candidato que descredibiliza uma eleição e desprestigia o cargo. As candidaturas "reality show" são completamente deslocadas e só contribuem para degradar a respeitabilidade da política. Os 152 mil votos obtidos por Tino comparam mal com os 180 mil do último candidato desta natureza, o sr. Coelho, da Madeira, em 2011. Os candidatos "Tiririca" mantêm-se com votações tão inexpressivas quanto as suas próprias candidaturas.
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO