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A 30 de janeiro de 2022, ao seu jeito otimista, António Costa prometia "estabilidade" enquanto fazia o seu discurso da vitória e se preparava para governar em maioria absoluta. Estabilidade foi coisa que não conseguiu. No seu primeiro ano deste mandato, conseguiu superar em número de demissões o seu mandato anterior e, aliás, todos os mandatos anteriores, incluindo as maiorias absolutas de Sócrates e Cavaco. Sem falar das "quase-demissões" que, como se viu com o caso Galamba, ocupam a agenda política com casinhos e a desviam daquilo que é realmente urgente: dar uma vida justa aos portugueses.
Sem gerigonça e com uma arma poderosa para combater a crise económica - o PRR -, Costa tinha nas mãos a conjuntura ideal para uma legislatura sem percalços. A mesma sorte não teve Passos Coelho, quando governou entre 2011 e 2015 em coligação com o CDS. A sua desafiante legislatura pautou-se pelo combate a uma aterradora crise financeira e pela presença da troika. Estavam reunidas as condições para tudo correr mal dentro do Governo, mas as demissões não encheram uma mão.
Quanto a Costa, em pouco mais de um ano de um governo com tudo para correr bem, duas mãos não chegam para contar os ministros e secretários de estado que abandonaram as suas pastas - muitos deles, senão a maioria, por suspeitas de corrupção, de casinhos polémicos e das relações familiares, de que os portugueses não podem mais ouvir falar. Nada que não tenhamos visto já, mas que não deixa de enraivecer um povo que só quer sair da cepa torta.
Afinal, onde está a estabilidade? Sem um plano de milhões de euros para relançar a economia, Passos comprometeu-se em recuperar o país de uma das maiores crises financeiras de que Portugal se recorda. Agora, no polo oposto, encontra-se Costa, com maioria absoluta, mas desgovernada, e com um plano de milhões, por aplicar. Pergunto-me onde estarão agora os críticos da troika.
Se Passos conseguiu estabilidade num país a arder, por que é que é tão difícil para Costa? A maioria absoluta recordista em demissões não se compreende, quando Costa tinha tudo o que era preciso para pôr o país a andar para a frente. É assim tão difícil manter a estabilidade dentro da própria casa?
*Vereador e presidente da UGT Vila Real