O já superfamoso pacote do Governo autointitulado Mais Habitação tem levantado enorme polémica em vários setores e suscitado inúmeras manifestações de espanto que tenho muita dificuldade em perceber. É um caso à portuguesa com certeza. Mas é com certeza um Governo socialista.
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Pegando num dos exemplos mais divulgados e mediáticos, o ex-ministro e ex-presidente do PSD Marques Mendes apareceu na SIC muito espantado com aquilo a que chamou um ataque de radicalismo socialista que teria atingido o primeiro-ministro António Costa.
Espantado ficaria eu se visse algum socialista mais ou menos encartado ou mediático vir acusar este Governo de estar a pôr em prática medidas de cariz ou influência socialista.
É um hábito antigo ouvirmos analistas políticos defenderem que o PS governa à Direita, na mesma linha daqueles que também gostavam de dizer que no tempo de Cavaco Silva os executivos do PSD governavam à Esquerda.
Por muito que custe a eleitores como eu que votaram à direita do PS, a verdade insofismável é que a maioria dos nossos compatriotas que exerceram o seu direito de voto fizeram-no a votar em partidos socialistas, de esquerda e até de extrema-esquerda.
Podemos protestar e revoltar-nos quando um Governo não cumpre as promessas que o partido que o lidera fez na campanha eleitoral . Podemos protestar e revoltar-nos quando esse Governo passa um ano a tropeçar em trapalhadas, casos e casinhos, que não foram certamente sufragados pelos eleitores. Mas não me parece inteligente nem que sirva de muito ficarmos escandalizados em público quando um Governo socialista apresenta um pacote de medidas alinhadas com o pensamento e a prática socialista.
Pode ser intelectualmente muito estimulante discutir a prevalência do direito à habitação sobre outros direitos individuais, ou tentar comparar este pacote com a Reforma Agrária dos tempos do PREC , mas a única coisa que pode ter algum resultado para os partidos não socialistas da Oposição é começar a trabalhar, rapidamente e em força, em propostas de governo e de governação alternativas que consigam convencer os eleitores não socialistas a mudar o estado das coisas na primeira oportunidade.
A começar desde logo por todos aqueles senhorios e proprietários de imóveis que nas últimas eleições ficaram em casa. Antes que chegue o dia em que ficam sem ela.
*Empresário