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Embora ainda falte terminar a contagem dos votos dos eleitores emigrantes, com a curiosidade de saber se vai ser o Chega ou o PS o segundo grupo parlamentar na nova legislatura que se vai iniciar no próximo mês de junho, os resultados das eleições legislativas de 18 de maio último são de uma clareza meridiana, resumindo neste texto cinco notas de conclusão.
1. Parlamento: as eleições não serviram para nada.
O quadro parlamentar regista uma condição igual no que respeita à relação de forças entre os partidos com assento, não surgindo de forma simples e linear qualquer solução maioritária onde possa assentar o novo Governo. Conclusão simples: a este nível, as eleições de nada serviram, o que era previsível.
2. AD e Governo: as eleições reforçam a posição da AD e de Luís Montenegro.
A posição da AD e do seu líder saiu reforçada, com uma nova vitória, bem mais folgada do que a de 2024, sinal objetivamente positivo de avaliação e confiança no Governo de Luís Montenegro, mas muito longe de uma maioria absoluta só da AD ou com a IL. Agora é tempo do PSD e da AD abrirem diálogos com o Chega e a IL, sabendo que por uns tempos o PS vai ser um interlocutor frágil. E o país tem de seguir em frente com uma governação determinada, obreira, estável e reformista.
3. Oposição: o Chega cresce e é o vencedor dos derrotados.
A vitória eleitoral é da AD. Todos os outros partidos são derrotados. Mas há um derrotado que teve um relevante ganho de crescimento, continuando a capitalizar os descontentes com as opções do Governo, no mínimo com algumas que consideram mais relevantes. O Chega ainda não se colocou em estado de oferta para ir para o Governo, como fez em 2024, mas já anunciou a criação de um Governo-sombra para se capacitar na preparação para poder vir a governar. O Chega é um partido que tem de ser considerado.
4. PS: entrou em plena crise e acabou a liderança de Pedro Nuno Santos.
Foi necessária uma estrondosa derrota para que o PS tenha entendido aquilo que o país já há muito tinha entendido: Pedro Nuno Santos não tem as mínimas condições para liderar o PS e para ser candidato a primeiro-ministro. Agora, o PS entrou numa crise de digestão da derrota e de definição do seu futuro, com uma luta primária já na praça pública: tratar da situação já ou deixar para o final do ano. E, entretanto, com que PS conta a AD e o Governo? Que PS vamos ter nos próximos meses no país e na Assembleia da República?
5. PR e a governabilidade: que soluções de estabilidade.
O presidente da República (PR) está a aplicar uma metodologia de gestão do processo de indigitação do novo primeiro-ministro e de elaboração do novo Governo diferente de 2024, mais prudente, com mais diálogo e recato: o que é positivo e se saúda. O país precisa mesmo de um Governo estável, com uma maioria que o sustente no Parlamento, e isso exige acordos e compromissos que todos os esforços devem procurar construir, também no diálogo entre os partidos, por mais que as perspetivas não indiciem uma ambiência favorável.
E que as decisões sejam tomadas por Portugal e pelos portugueses.
O PS entrou numa crise de digestão da derrota e de definição do seu futuro, com uma luta primária já na praça pública: tratar da situação já ou deixar para o final do ano.