PAPS. Portuguese-American Post-graduate Society, Sociedade Luso-Americana de Pós-Graduados. Como se diz na sua apresentação, trata-se de uma organização independente, sem fins lucrativos, que visa estimular o desenvolvimento de relações entre a comunidade de estudantes portugueses de pós-graduação e a sociedade americana, assim como a fomentar a sua ligação com universidades e empresas portuguesas. Mesmo sem o deslumbramento pacóvio pelo "estrangeiro", percebe-se o papel que pode ter: envolve portugueses qualificados, inseridos em organizações que pontuam o sistema educacional e científico internacional e que têm acesso a professores, investigadores e redes que estão a escrever as novas fronteiras da ciência e da inovação. Nas instituições em que desenvolvem os seus estudos e trabalhos, há uma história e um acervo de informação e de práticas com as quais se pode, e deve, aprender. Isto, que seria sempre importante, é-o ainda mais para um país com dificuldades no estabelecimento de pontes entre a universidade e a indústria e no fomento do empreendedorismo. Julgar-se-ia, por isso, que a PAPS seria uma associação de iniciativa estatal, que um qualquer governo se teria lembrado de dar consistência a esta comunidade, de facilitar a sua organização e de aproveitar o seu potencial. Desengane-se quem assim pense. A PAPS é uma iniciativa de alguns estudantes de pós--graduação que, em 1998, a decidiram constituir. Um bom exemplo de vitalidade cívica mas também da inércia estatal. Mantida graças à carolice de quem rouba horas preciosas ao estudo, a PAPS podia e devia ter tido um outro estímulo que não se limitasse a um subsídio pontual e ao discurso de circunstância no respectivo encontro anual. Um apoio que permitisse gerir a rede de membros de uma forma mais activa e consistente, extraindo deles aquilo que eles estão disponíveis para dar, tornando-os cúmplices na abertura de novas avenidas para o desenvolvimento do país. Para isso seria preciso pensar as políticas públicas enquanto tal, indo para além da circunstância mediática e estatística. Assim, sendo útil, a PAPS fica muito aquém de realizar todo o seu potencial.
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A uma outra escala, algo de semelhante acontece com todos aqueles que passaram pelas várias versões do programa Contacto. Serão já alguns milhares os jovens licenciados que estiveram envolvidos numa experiência de vida profissional no estrangeiro. Muitos por lá ficaram, a trabalhar em empresas ou organizações, nacionais ou estrangeiras. Alguns dos participantes das primeiras edições, já lá vão 15 anos, ocupam, hoje, lugares com influência. Sabemos onde estão? Temos o respectivo contacto? Mantemo-los informados? Pedimos-lhe ajuda e conselho? Que eu saiba, não! Nem tenho a certeza de que haja, sequer, alguém que se tenha preocupado em manter, pelo menos, uma base de dados actualizada. Tudo isso implicaria um acréscimo de custos ridículo e poderia ter uma utilidade extrema, sobretudo agora que se redescobriu a importância das exportações e da internacionalização.
De vez em quando, ressuscita o discurso dos centros de decisão nacional. Uma conversa do passado. Em coerência com o discurso sobre a globalização e o papel das redes e do conhecimento, não parece exagerado defender que os verdadeiros centros de decisão, num contexto desses, estão mais nas pessoas, nas suas competências e qualificações. Só um país rico se pode dar ao luxo de não querer saber dos seus melhores. Por vezes fazemos tudo bem, mas falta-nos dar o último e pequeno passo.
P.S. Não nos iludamos: a cultura portuguesa tem muita força e sobrevém rapidamente. Exemplo? O ministro da Economia. Muitos anos a viver no Canadá, regressa a Portugal e já se converteu ao palpite. A sua sugestão sobre o interesse e, presume-se, viabilidade da linha de mercadorias a partir de Sines, não passa disso mesmo. Um mito, como gostava de dizer o economista Álvaro Santos Pereira que, no mínimo, teria exigido uma rigorosa análise custo-benefício do projecto.