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Como é que gostam dos políticos? Eu cá gosto deles como gosto do vinho. Brancos. (Não, estou a gozar. Não tenho o mesmo gosto para políticos como o Chega tem para imigrantes). De preferência maduros, encorpados e que não deem dores de cabeça.
Mas, como aprendemos de cada vez que vamos às compras, a qualidade faz-se pagar.
Não há coisa mais consensual neste país - depois daquilo do testamento do Marco Paulo ser uma coisa um bocado esquisita - que a ideia que os políticos só querem é mamar. Mas, se formos ver os números, a realidade é que a teta não é muito grande. Os políticos portugueses não ganham muito, se pensarmos que os profissionais competentes se fazem valer. Comparando com os salários de bons gestores, os políticos ganham substancialmente menos e, como opção de carreira, é provável que os melhores profissionais não vejam como competitivos os salários da política. Ou seja, acabamos por atrair medíocres. Mas assumir-se isto não dá votos, pelo contrário. Aliás, só há uma coisa que atrai menos votos que dizer que a classe política não ganha muito, é dizer que o pastel de nata não é um artigo de pastelaria assim tão interessante.
Mas esta ideia de que os políticos ganham muito é uma coisa enraizada na nossa cultura e desde 2019 que está representado no Parlamento um partido que aproveita todas as oportunidades para vociferar o discurso populista do "eles querem é tacho!". "Eles" essa entidade nunca esquecida por populistas, demagogos e atores de revista à portuguesa. O giro é que, se cargos públicos são tachos, podemos dizer que em 2019 começou com um e nas últimas legislativas já vai num trem de cozinha.
E, na semana passada, o partido Chega achou giríssimo montar aquele estendal nas janelas dos seus gabinetes em protesto contra a reposição de 5% no salário-base dos políticos. Os deputados do Chega a brincar com lonas no dia da votação final do documento cujo objetivo é gerir o Orçamento do país para não ficarmos novamente nas lonas. Aparentemente, não querem ver reposto um corte feito em 2010 e, a julgar por aquele trabalho político que obrigou à atuação de bombeiros sapadores, eu concordo.
Claro que num país com o salário mínimo de 820€, qualquer conversa de aumento de salários, especialmente de uma classe profissional que provoca sempre desconfiança, não é fácil. Mas a verdade é que, quando um deputado, um ministro, um presidente, toma posse, o que está em causa é a responsabilidade de gerir a vida de um país, é ser escrutinado diariamente, é ir a painéis de debate com deputados do Chega e é volta e meia ir aos programas da manhã fazer arroz de pato ou contar uma história com um pianinho triste por trás. E concordamos todos que isto é uma valente trabalheira.

