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A NATO, que esta semana inaugura o "encontro Jumbo", entre ministros da defesa e dos negócios estrangeiros, é feita de muitas coisas. É feita, por exemplo, do coronel G, da força aérea alemã, veterano do Afeganistão, que teve de aprender, à sua custa e sem professor, a maneira de falar, ajoelhado, com os anciãos de Kunduz e Kandahar, a forma de respeitar as tradições, de resguardar as intimidades, de compreender os aliados, e sobretudo os adversários.
É feita do capitão J, polaco, marinheiro, mais interessado no salvamento humanitário e na luta à poluição, do que nas enfadonhas reuniões de horas, debatendo números sem sentido. É feita de rudes soldados de dezenas de países, da Holanda à Itália, da França à Roménia, a quem ensinaram que deviam proteger os seus povos e as suas terras. E, por extensão, o povo a que chamamos "humanidade", e a terra a que aludimos como "planeta".
A NATO já foi o símbolo do Atlântico Norte, ligando americanos e europeus, receosos da nova tirania que se erguia, sobre os escombros de Budapeste e Berlim. Mas há quem a queira como polícia global, e o seu símbolo aparece no Médio Oriente, no Corno de África e na Ásia. A ideia presente é a de que os seus membros devem ser protegidos das ameaças, onde quer que estas se encontrem.
Mas deve isso fazer-se com esta carapaça gigantesca, que demora tempo a transformar ideias gerais em operações práticas? Deve a NATO ser mais militar, e menos política, ou o contrário? Deve falar com a Rússia e a China, ou, a prazo, cooptá-las?
Deveria, alargada, ser o braço armado da ONU? Ou, reduzida, fundir-se na União Europeia?
É mesmo precisa?
Não há respostas fáceis.
Mas precisamos de respostas.
P.S.: Na pessoa do seu articulado embaixador em Lisboa, um economista de vistas largas, formado na Croácia, o Chile tem de ser saudado pelo imaculado resgate dos mineiros de Copiapó, repetindo o salvamento de 2006, no mesmo local.
Agora, espera-se que o feito tecnológico, vindo do engenho de Júlio Verne, dos submarinistas e da melhor ficção científica, não apague a triste realidade das milhares de mortes anuais, por todo o Mundo, nas minas de carvão e ferro.
É aí, nas entranhas da terra original, que homens de pedra exploram as riquezas da sociedade de consumo, mãe da nossa crise, pai do nosso sustento.