<p>Cavaco, que conduziu o debate a seu bel-prazer, colocou-se numa posição de "já reeleito", sem ser contrariado. Surpreendido com o arranque na ofensiva do adversário, Alegre nunca se recompôs.</p>
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Nem um só cidadão eleitor esperaria que o combate televisivo de ontem à noite fizesse luz, no que ao lugar onde pôr a cruzinha diz respeito. Porque não é em pouco mais de meia hora que alguém descobre centelha política que o ilumine, por entre a esgrima de argumentos. E porque o que separa os dois protagonistas que fecharam a série de debates é tanto que por aqui, presumivelmente, não passavam indecisos. Não que as diferenças entre Cavaco Silva e Manuel Alegre se tenham notado muito...
O candidato incumbente, que conduziu o debate a seu bel-prazer, colocou-se numa posição de "já reeleito", sem ser minimamente contrariado. E assim começou a encostar Alegre às cordas.
O recurso à velha e relha táctica de não responder às perguntas permitiu-lhe abordar apenas os temas mais convenientes. E, sem rebuço, dar ao Governo - melhor: aos eleitores do partido do Governo - o sinal de que não partirá dele qualquer iniciativa para o remover. Está "ao lado do Governo na linguagem que utiliza", quando se pronuncia sobre os credores de Portugal. Concerta com ele - "é bom explicar" - a política externa. Reconhece que "tenta colocar as finanças públicas numa posição sustentável". Com aliados destes, José Sócrates até deveria rever a matéria dada, passando a apoiar Cavaco Silva, um veradeiro "seguro de vida".
Aparentemente surpreendido com o arranque na ofensiva do adversário, Manuel Alegre nunca se recompôs. A insistência de que opinião política não é ataque revelou-se frágil, porque se esperava um contra-ataque. E esse caminho ele nunca seguiu.
Alegre não soube separar as águas no capítulo central da sua aposta política, a defesa do Estado Social. Nem ser suficientemente acintoso para engasgar Cavaco, quando introduziu o tema das supostas escutas em Belém. Nem brandir o trunfo BPN com a frontalidade com que o fez Defensor Moura. Foi preciso a entrevistadora insistir sobre a quem se referia, na alusão aos apoiantes de Cavaco envolvidos no escândalo.
Manuel Alegre deixou, assim, transparecer uma impressão de tibieza política que o eleitor regista. Sobretudo o "povo de Esquerda", cuja representação reclama.