A credibilidade das lideranças políticas mede-se pelo que revelam nos momentos mais difíceis. O Reino Unido optou por abandonar a UE. A generalidade dos chefes de Governo proferiu declarações coincidentes com a gravidade da decisão. Mas o primeiro-ministro português, sem noção do que está em causa, optou pela graçola e riu, mesmo quando errou no conhecimento básico que se supunha teria, acerca da composição territorial do país.
Corpo do artigo
O Reino Unido representa a segunda economia da UE, com 65 milhões de consumidores. É um contrapeso fundamental para o equilíbrio geoestratégico a 28, em relação ao predomínio continental de alemães e franceses. E quer abandonar o espaço político que, agregando politicamente as principais potências beligerantes da I e II Guerras Mundiais, teve no longo período de paz alcançado o seu principal sucesso.
Apesar disso, domingo, nos Açores, António Costa achou normal brincar, dizendo:
"Agora que a Europa vai perder algumas ilhas atlânticas, vamos valorizar todos, cada vez mais, o contributo que Portugal dá para ter 11 ilhas; 11 não, 12 ilhas. Posso insistir na minha matemática, que está certa. Não estava a pôr as Berlengas. Já nem regateamos as Berlengas".
Pelo caminho, alguém soprou a António Costa que as ilhas atlânticas são 13. Mas para lá do insólito, o que releva é que uma decisão britânica, com consequências devastadoras para o projeto europeu e para a economia nacional, na verdade a maior crise desde a criação da EU, possa ter sido tratada pelo primeiro-ministro português, perante o Mundo, como uma anedota dita num bar dos tempos em que presidia à associação de estudantes de uma faculdade lisboeta.
Como não bastasse, na geringonça o BE quis subir a parada. E repescando a linguagem bélica de Pedro Nuno Santos, que na Oposição via no "não pagamos" a "bomba atómica" a usar "na cara de alemães e franceses", Catarina Martins decidiu ameaçar com um referendo, caso a UE se decida pela aplicação de sanções a Portugal.
Ou seja. Todos os estudos advertem que a saída de Portugal da UE significaria o fim do euro, a desvalorização radical da nova moeda, dos salários e do valor dos depósitos, o aumento das taxas de juro e da inflação, a perda de um mercado de 500 milhões, a renúncia à livre circulação de pessoas, bens e serviços, a fuga dos investidores e de capitais, o desemprego descontrolado e a bancarrota.
Mas para o BE, isso não importa nada. Bem vistas as coisas, coerentemente, trata-se do mesmo partido que apoia o regime dito bolivariano, que na Venezuela só trouxe ao povo miséria e fome.