Por estes dias, os média noticiosos voltaram a recentrar o tema da pandemia, muito por causa dos atrasos na administração do reforço da vacina anticovid e da subida do número de infetados por SARS-CoV2. Nem sempre essa atenção jornalística será assim. Porque há uma agenda política que vai ganhar força e sobrepor-se a quase tudo o resto.
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Os média não constituem o principal meio de combate à pandemia, mas são importantíssimos na difusão de informação que ajuda a conter a disseminação da doença. Ora, até finais de janeiro de 2022, nem sempre os alinhamentos das notícias poderão centrar-se numa análise prospetiva da situação. Vão andar ocupados com disputas internas dos partidos de Direita e, depois, com as eleições legislativas. E isso poderá ser demasiado perigoso para a perceção dos cidadãos acerca da evolução de uma matriz de risco que poderá afundar-nos numa tragédia semelhante àquela que cruzámos no início deste ano.
Atualmente, Portugal atravessa um período determinante para desenhar o próximo inverno. Todos sabemos que há duas variáveis vulneráveis graças às quais poderemos evitar estados críticos: a aceleração da dose de reforço da vacina anticovid e a intensificação das medidas de proteção individual. Para a eficácia da primeira, não precisamos de um D. Sebastião, como bem sublinhou o vice-almirante Gouveia e Melo. Necessitamos "apenas" de adquirir as doses indispensáveis, reativar os anteriores recursos humanos do processo de vacinação, alargar o reforço a outras franjas etárias e dar ordem para as tropas se unirem em torno de um desígnio comum. A este nível, o Governo necessita de assumir essa voz de comando. Para o fortalecimento das medidas de prevenção, é urgente aumentar os canais de comunicação com a população e isso é, decerto, uma tarefa da Direção-Geral da Saúde que, desta vez, não poderá contar com o nível de cooperação que os média assumiram entre março e maio de 2020. Agora a agenda noticiosa vai preencher-se com outros temas e as entidades oficiais e a autoridade sanitária vão ter de encontrar canais alternativos para não deixar os portugueses baixar a guarda.
Falta mais de um mês para o Natal. Este ainda não é o tempo para falar de consoadas ou festas natalícias. Haveremos de nos ocupar disso mais à frente. Por enquanto, a nossa missão é evitar que a quinta vaga ganhe força. E isso trava-se com medidas que devem ser implementadas rapidamente. Para que o inverno passado nunca mais se repita.
*Professora associada com agregação da UMinho