Os meios de Comunicação Social estão afundados numa crise profunda. Que vai acentuar-se. O Estado tem, pois, o dever de criar apoios que garantam a sobrevivência de um setor que, como se percebe, é vital para o funcionamento das sociedades.
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Não se trata de um auxílio piedoso, mas de uma obrigação que reflete o retorno que a sociedade devolve a quem se tem revelado um elemento fundamental no combate à doença, na prevenção da saúde, na coesão social e no equilíbrio territorial. Não é coisa pouca.
Portugal é tido como um país exemplar em fazer permanecer as pessoas em casa. É verdade que, aqui e ali, há deslizes. Que, no entanto, são logo apontados pelo discurso jornalístico e censurados nas redes sociais. O Governo de António Costa, célere na tomada de decisões de confinamento social, nunca conseguiria levar tão rapidamente as pessoas para casa sem a pronta colaboração dos média.
Para além de informar, os meios de Comunicação Social têm também assumido um trabalho exemplar de literacia: contextualizando situações, explicando melhor o que nem sempre é simples perceber, procurando ângulos diferentes para o mesmo tópico, pedindo a vários especialistas para expor pontos de vista diversos sobre realidades para as quais ainda não há teses consolidadas... Estudando a mediatização da saúde desde 2010, nunca encontrei um jornalismo tão esclarecedor.
Paradoxalmente, num tempo em que os média evidenciam uma inequívoca responsabilidade social e tanto se esforçam por dotar o seu trabalho da maior qualidade, as receitas caem abruptamente, colocando em causa a sua sobrevivência. Mesmo assim, os grupos editoriais não hesitaram em tornar de acesso livre os conteúdos publicados nos respetivos sites. Porque há um valor que se sobrepõe a tudo: o bem comum que é preciso salvaguardar.
Neste contexto, o Estado tem obrigação de atuar, criando mecanismos que ajudem a fortalecer os meios de Comunicação Social. É preciso gerar mais benefícios fiscais para as empresas mediáticas, para quem aí investe e para os respetivos utilizadores.
É preciso promover o consumo de informação nas instituições públicas, nos estabelecimentos de ensino, em casa de cada um de nós. O Governo tem aqui uma excelente oportunidade para revolucionar os nossos hábitos. Mais do que apoios pontuais (imprescindíveis neste tempo excecional), é urgente fortalecer a ligação dos cidadãos à informação jornalística que, como todos hoje sabemos, é um bem de primeira necessidade. Que não se desperdice este momento para fazer essa revolução.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho