Na semana em que o grupo Dielmar pediu insolvência, colocando 300 pessoas em iminência de desemprego, ficamos também a saber pelo ministro da Economia que o Estado só deve pôr dinheiro em empresas que têm salvação. Se aqui colocarmos a sigla TAP, a piada faz-se sozinha.
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Não deixa de ser irónico que o Governo que assume esta posição é o mesmo Governo que ordenou a injeção de milhares de milhões de euros na TAP, uma empresa onde a má gestão se premeia com envelopes financeiros rubricados à força pelos contribuintes e cujo serviço público apenas se aplica a Lisboa.
Este pedido de insolvência é uma machadada em Castelo Branco, que significa a rutura financeira de um dos maiores empregadores da região, numa zona do país dependente do tecido empresarial, tal como outras regiões do interior. Desta forma, não nos podemos admirar da desertificação do interior confirmada a cada censos.
Não estou a avaliar gestões empresariais. Muito menos serei conivente com premiar o demérito e a má gestão. Porém, este caso deveria levar a administração central a concentrar esforços para impedir a queda de grupos empresariais que têm nestas regiões uma importância estratégica fundamental e que permitem gerar dinamismo económico. Neste caso, como noutros, é necessário encontrar soluções, procurar investidores nacionais ou internacionais, pois muitas vezes trata-se de empresas viáveis que por deficiente gestão e/ou dificuldades de acesso a mercados internacionais colapsam.
O esforço que os governos deveriam fazer e não fazem deve-se ao facto de as regiões do interior valerem poucos votos e elegerem poucos deputados? Ou por não estarem na capital? Ou por não terem fortes sindicatos?
Os interesses económicos estratégicos de Portugal devem ser muito mais do que grandes empresas de interesse público muito relativo. A vida do país é também a dos pequenos e médios empresários, que criam postos de trabalho, geram riqueza e dinamizam a economia. Não podem ser sempre tratados como portugueses de segunda.
Empresário e presidente da Associação Comercial do Porto