As modernas tecnologias permitem-nos, mesmo quando se está fora do país, ir tendo uma ideia aproximada do que por cá se vai passando. À distância, as principais notícias do mês de Agosto foram os episódios, mais ou menos caricatos, dos falhanços de alguns atletas (e cavalos) olímpicos e o aparente surto de criminalidade.
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Há uns anos, nem uma nem outra situação seriam provavelmente conhecidas. Hoje, a Comunicação Social faz um acompanhamento mais cuidado dos Jogos Olímpicos, mas tem também necessidade de produzir outras notícias que não os simples resultados. Pelo que me foi dado perceber, os nossos atletas estavam tão mal preparados para lidar com os media quanto com a competição. Vai daí surgiram declarações que fizeram a delícia da má-língua nacional. Típico da silly season. E se os atletas tivessem estado calados ou, pura e simplesmente, tivessem arranjado uma outra desculpa, mais ou menos esfarrapada e, no fim, pedido desculpa? Afinal, o maior falhanço foi o de Naide Gomes e dele nunca mais ninguém ouviu falar...
Como quase sempre acontece, foi-se passando a ideia de que este desempenho menos bom era um exclusivo português. Bastaria, no entanto, um relance pelos jornais de outros países, a começar pelos espanhóis, para, descontada a histeria, verificar ser esse um problema partilhado com outros países. Os problemas não são exclusivo nosso como a habitual visão paroquial do mundo nos quer fazer crer.
Quem diz desporto diz violência. Não pretendo ser cínico. É óbvio que qualquer morte nestas circunstâncias é sempre uma morte a mais. Comparem-se, porém, os dados e verificar-se-á que, infelizmente, Portugal se limita a seguir, por baixo, uma tendência. Não quer isso dizer que tenhamos de assistir a este surto de braços cruzados. Mas, mais uma vez, a comparação internacional diz-nos que o nosso problema não será o de escassez de efectivos: temos tanta ou mais polícia por mil habitantes que a generalidade dos países da União Europeia. Haverá um problema de organização e de gestão, bem como enquadramentos legais e institucionais a melhorar e comportamentos a alterar. Entre os quais os da Comunicação Social. Não tendo havido praticamente incêndios, tendo acabado os Jogos Olímpicos, como é que os meios de Comunicação Social iam preencher o tempo e espaço? Ainda por cima, os habituais problemas com os voos charter envolvendo turistas portugueses apenas ocorreram no fim-de-semana. E só no domingo é que o costumeiro furacão que, anualmente, afecta uns milhares de portugueses em férias passou por Cuba...
Não pretendo reduzir tudo a um mero efeito mediático. Ainda assim, não consigo deixar de me lembrar de como a demissão de Fernando Gomes "acabou" com os assaltos a bombas de gasolina. Ou como os boicotes eleitorais diminuíram drasticamente após o apelo de Sampaio para acabar com a cobertura de actos ilegais. Sabe-se, também, que as pinturas nos transportes se reduziram quando as empresas instituíram uma política de limpeza diária das carruagens. Os "artistas" gostam de ver os seus feitos perpetuados e mediatizados. Há uns anos, as televisões alteraram a forma como davam cobertura aos incêndios. Não será altura de se pensar se não haverá maneira de noticiar os assaltos sem incutir o pânico e, se possível, fazendo a pedagogia sobre comportamentos de risco a evitar?