E se António Costa olhasse para o Porto?
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O orçamento da Câmara Municipal do Porto para 2016 foi há dias aprovado com uma maioria esmagadora de votos favoráveis (11 em 13), formada por independentes, socialistas e sociais-democratas. Foi um resultado quase inédito na história do poder autárquico e que deve constituir um bom exemplo para o país, pelo que representa quanto ao sentido de responsabilidade de colocar os interesses dos cidadãos acima dos interesses individuais ou dos partidos.
O resultado da aprovação do Orçamento teve a referida dimensão porque dois eleitos nas listas do PSD, Amorim Pereira e Ricardo Valente, optaram por pensar pelas suas próprias cabeças e decidir em consciência, não alinhando numa disciplina partidária que o presidente do PSD Porto terá tentado impor-lhes. O bem público e o princípio das boas contas da cidade prevaleceram. Ganhou o bom senso, ganhou a estabilidade, ganhou o Município, no seu todo. Perderam, muito claramente, aqueles que procuravam a todo o custo defender interesses pessoais e tinham apenas em mente pequenos jogos políticos que nada têm que ver com a qualidade de vida dos cidadãos.
Neste caso (mas também em outros) o modelo que Rui Moreira lidera no Porto encontra paralelismos incontornáveis com a situação política do país. Na Câmara do Porto não há uma maioria absoluta, sendo que a gestão da cidade se faz por via de um acordo político (legítimo, estável e consistente) e com o envolvimento ativo e empenhado de todas as forças políticas representadas, com o sucesso que é reconhecido. Precisamente o que faria falta no quadro atual da Assembleia da República, dado que é o modelo mais democrático e que permite que quem ganhou governe e quem não ganhou colabore.
Os vereadores da Câmara do Porto eleitos pelo PSD, numa votação tão decisiva e relevante como a do orçamento, comportaram-se como deveriam comportar-se os deputados do PS em S. Bento: como representantes do povo que os elegeu diretamente e que espera deles o melhor para a comunidade (seja ela uma cidade ou um país), não como figuras telecomandadas por uma disciplina partidária cuja vocação e sobrevivência assenta na conquista do poder. Já o PSD Porto esteve ao melhor nível da doutrina partidária - quis impor um sentido de voto e agora ameaça expulsar quem teve a coragem de não obedecer. Tem sido várias vezes referido que António Costa considerará o governo do país semelhante ao governo da Câmara de Lisboa. É uma pena que não o equipare antes ao governo da Cidade do Porto, onde cada um dos eleitos vota em consciência e em função do que julga ser o melhor para a cidade. Com outra diferença: no Porto governa quem ganhou as eleições.
Tem sido referido que António Costa considerará o governo do país semelhante ao governo da Câmara de Lisboa. É uma pena que não o equipare ao governo da cidade do Porto...