Corpo do artigo
O colapso tecnológico global da última sexta-feira tem tanto de assustador como de fascinante, principalmente para quem não tenha sido atingido pela falha nos sistemas da Microsoft. O lado digno de thriller americano é o mais óbvio e direto: uma pequena falha numa corriqueira atualização noturna de um obscuro software de segurança algures no globo consegue paralisar meio mundo e deixar o restante em suspenso.
Poucas áreas terão escapado à razia provocada pela Crowdstrike. Australianos às compras, ingleses a marcar consultas no médico, espanhóis em viagem e norte-americanos a enviar carga por navio estiveram durante horas unidos por um mesmo problema. E aqui chegamos à parte fascinante.
Sabemos que todos estamos unidos enquanto Humanidade por habitarmos este planeta, o único que temos, já que, até ver, “não há planeta B”. Mas a tecnologia que nos afasta em tantos aspetos, que atomiza o nosso mundo e nos coloca numa caixa de ressonância une-nos, neste momento em que o nosso problema é exatamente o mesmo de alguém a milhares de quilómetros de distância, porque todos recorremos aos mesmos serviços.
É também fascinante que um pequeno gesto distante consiga colocar em causa algo que damos como garantido no dia a dia, como passar um cartão num terminal e continuarmos a nossa vida. Já imaginou se em vez de um erro estivéssemos a falar de um ciberataque? Estaríamos prontos para, em segundos, recuar décadas no nosso estilo de vida e responder à crise?
A evolução colocou os nossos dados nas mãos de algumas empresas, como a Microsoft ou a Amazon, para além outras tantas das quais somos utilizadores involuntários, como a Crowdstrike. E esta falha foi mais um alerta para um problema que muito provavelmente se vai colocar de tempos a tempos.
Será que Governos e empresas estão prontos para resistir a uma avaria mais grave ou a um ataque? E a um nível mais pessoal, sem querer causar pesadelos, já pensou no caos que seria a sua vida se a Google ou a Apple acabassem hoje? Perderia documentos que gravou algures na nuvem, aquelas fotos dos filhos, dos netos e do casamento. Já para não falar de e-mails ou de contactos telefónicos. O “Expresso” que nos conte o que terá custado perder o arquivo num ataque de piratas.
Este cenário negro não serve para lhe dizer que deve voltar ao papel e caneta e a guardar fotos em álbuns ou envelopes da Kodak. Temos é de ter consciência dos riscos, tentar não colocar todos os ovos no mesmo cesto e refletir sobre o poder que damos às grandes tecnológicas, cada vez mais poderosas e fundamentais do que a maioria dos Governos. E agora vou pensar numa forma de diversificar o serviço de armazenamento na nuvem que uso. Será melhor fazer o mesmo.