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A guerra entre a Rússia e a Ucrânia começou, para quem já não se recorde, com uma invasão russa cujo objetivo era tomar a capital ucraniana, Kiev, derrubar o Governo e substituí-lo por um regime fantoche ao serviço do Kremlin. Nesses primeiros dias sucederam-se os massacres de civis, com o nome da cidade de Bucha a garantir um lugar simbólico nos livros de história que dediquem algumas linhas às atrocidades que os seres humanos são capazes de cometer. A crueldade de Putin, a incompetência dos seus generais e a resistência dos ucranianos impediram esse desfecho. Mas não puderam evitar a destruição e a perda de vidas humanas destes quase quatro anos de guerra. Não há números rigorosos, mas há estimativas fiáveis: entre 200 e 250 mil militares russos mortos, entre 60 e cem mil militares ucranianos mortos, e ainda 14 mil civis ucranianos mortos (incluindo quase mil crianças). É um preço inaceitável.
A guerra não se tornou menos destrutiva nem menos mortal, com o passar do tempo, mas a linha da frente manteve-se estável quase desde o princípio. Nem a Rússia nem a Ucrânia têm capacidade para declarar vitória. E por essa razão se foi impondo a ideia de negociar uma qualquer espécie de paz. É aí que entra Donald Trump, que acaba de propor um plano. Inclui pontos absurdos, como usar os milhares de milhões de euros de fundos russos congelados na reconstrução, desde que os EUA assegurem 50% dos lucros da operação, ou a cedência de territórios ainda na posse dos ucranianos sem contrapartidas, ou ainda a ideia de reduzir as forças armadas da Ucrânia ao ponto de ser incapaz de se defender de um futuro ataque.Mas já não soa assim tão absurda a hipótese de se delimitar novas fronteiras. Está muito certo que os líderes europeus, na segurança dos seus gabinetes, rejeitem alterações pela força das armas. Mas quem vai combater e morrer para repor as fronteiras de 2022? Talvez fosse altura de tentar garantir não uma paz podre, mas um cessar-fogo que dure o tempo necessário para perguntar, num referendo ao povo ucraniano, o que quer: se a guerra, se a paz, ainda que à custa de um país mais pequeno. São eles que têm de escolher e não o Mundo por eles.

