Maratona - cidade grega da antiguidade - foi palco de uma violenta batalha, em 490 a.C., que opôs atenienses aos invasores persas. Atenas venceu, tentando depois a sua sorte no contra-ataque à toda poderosa Pérsia, mas essa seria uma longa história. Desta vez, a batalha da maratona foi canalha. Visou inocentes em festa e, ao contrário daquele tempo na terra que lhe deu nome, não havia guerreiros. Só gente como nós. Idosos, pais e mães com crianças a desfrutar o prazer do desporto. E, do outro lado da barricada, escondidos como sempre, os cobardes. Os que, muito tempo depois de todos os profissionais terem cortado a meta da Maratona de Boston, a mais antiga das longas corridas anuais do Mundo, fizeram detonar as duas bombas que mataram inocentes, entre os quais Martin Richard, uma criança "irrequieta e ativa, como as outras", na descrição dos seus vizinhos de Dorchester. As bombas causaram ainda muitas dezenas de feridos, como os dois irmãos que assistiam à corrida e que, naqueles 15 segundos mortíferos, perderam uma perna cada um.
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Foi o terror num "perfect day", como descreveu um colunista do "Boston Globe", parafraseando a melodiosa canção de Lou Reed. O céu estava encoberto e fazia um pouco de frio, tal como os corredores de atletismo gostam. Era, também, 15 de abril e este não é um dia qualquer. Realiza-se a Maratona de Boston e comemora-se o "Patriot Day", o dia em que o liberal estado do Massachusetts assinala o início da revolução contra o domínio inglês. Ainda sem pistas sólidas, as mentes mais imaginativas na busca do autor (ou autores) do infame atentado na meta da Rua Boylston encontrarão aqui uma motivação para o crime. Afinal, a história do terrorismo na América não se encerra no desaparecido Bin Laden e em 11 de setembro de 2001. Essas, desta vez, têm motivos de sobra, a começar pelas reformas do reeleito Obama e da sua civilizada obsessão em revogar as primitivas leis de porte de arma nos EUA.
Outros, mais empenhados em culpar os suspeitos do costume, dirão que, um dia antes, se assinalou o dia da independência do Estado de Israel e que este poderá ter sido um sinal contra o aparentemente inabalável apoio norte-americano a Telavive. Não passam de especulações perante uma ação aparentemente pouco profissional - as duas bombas artesanais foram feitas com panelas de pressão - e, por isso, muito longe da espetacularidade de outros atentados que não nos saem da memória.
Não terá sido por acaso que, na primeira comparência junto dos jornalistas, Barack Obama tenha prudentemente evitado quaisquer referências a "terror" ou "terrorismo", palavras malditas no vocabulário americano. Elas só seriam proferidas um dia depois pelo presidente dos Estados Unidos, quando as pistas se tornaram demasiado evidentes, ainda que o quem e o porquê deste infame ataque permaneçam sem respostas.