Estranha pergunta a que me assaltou no meio do espetáculo em que se tornou a infeção de Donald Trump por covid-19.
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De repente, todo o processo eleitoral americano ficou ameaçado multiplicando-se as hipóteses sobre o que fazer se um dos protagonistas ficasse incapacitado.
Em caso de covid (Deus o guarde!) ou simplesmente porque não se encontram reunidas as condições para a vitória esmagadora que alegadamente ambiciona, a exclusão de Marcelo Rebelo de Sousa deixaria o exercício eleitoral em estado de transe.
O PCP e o BE cumprem o calendário político como é costume. O resto, pelo que percebemos, tende a apoiar o presidente em funções mesmo antes de este se apresentar formalmente.
Só Ana Gomes desafia este statu quo antecipado. Sem Marcelo, o que agora parece ser um exercício de aquecimento, virado para as franjas deste centrão esmagador, poderia bem passar a ser a única alternativa focada e credível para este amplo arco do espectro político nacional.
O que, convenhamos, seria para lá de exótico.
O que faria o PS? Adotaria Ana Gomes? Corria a encontrar uma alternativa? Quem? Só António Costa, ele próprio, federaria a Esquerda. Mas estaria Costa disponível para deixar o caminho aberto a Pedro Nuno Santos?
E o PSD? Sem condições para tornar qualquer dos candidatos restantes num filho adotivo de recurso, o partido teria de reagir com rapidez e acerto para poder ir a jogo.
Qual dos sapos seria mais difícil de engolir: Marques Mendes ou Pedro Passos Coelho? Sem contar que poderia o partido ficar a engolir em seco por falta de candidatos a isco de última hora.
Parece uma brincadeira, certo?
E, no entanto, este ano de 2020 tem mostrado à saciedade que os piores cenários se podem abater sobre todos nós com estrondo e sem pré-aviso.
Talvez fosse de encarar a escolha que se avizinha com a seriedade e a integridade política e intelectual que se impõe.
Afinal, em terras do Tio Sam ou noutra paragem qualquer, o vírus não se impressiona muito com o poder de homens providenciais.
*Analista financeira