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A partir do momento em que foi anunciado um acordo no Conselho Europeu para que a Comissão vá ao mercado levantar 750 mil milhões de euros, respirou-se de alívio por cá.
Ficamos inebriados , assustados até com o valor anual anunciado.
Acreditamos piamente que alguma coisa acontecerá. O facto de a promessa ainda ser nebulosa só nos dá jeito. Afinal, se soubéssemos já com rigor quais as nossas responsabilidades ficávamos num desassossego.
Por isso, não queremos saber do grande passo que a União Europeia tem de dar para conseguir financiar um orçamento tão exigente : aumentar as receitas próprias.
O Parlamento europeu exige um compromisso vinculativo para a introdução de novos recursos próprios que sejam suficientes para pagar pelo menos os juros e as amortizações do empréstimo a contrair.
Se tal não acontecer, conforme me dizia há dias um conhecedor eurodeputado português, "temos cortes enormes depois de 2028 a menos que se aumentem as contribuições nacionais".
Entretanto, é preciso que a decisão sobre os recursos próprios (taxas sobre o plástico, sobre as transações financeiras, etc.) seja votada em setembro em plenário no Parlamento Europeu, seja aprovada por unanimidade no Conselho e ratificada em cada um dos parlamentos nacionais.
Ou seja, basta que um Parlamento nacional não ratifique e a Comissão não será autorizada a ir financiar-se ao mercado. Sem empréstimo não há Fundo de Recuperação e sem Fundo de Recuperação todo o edifício das Perspetivas Financeiras Plurianuais, ou seja, o orçamento da União para os próximos sete anos, ficará inviabilizado.
Ora, pelo menos a Hungria já disse que não aprova sem que haja primeiro um acordo sobre o Rule of Law, o que obrigará, seguramente, a muita negociação.
Não há pois certezas cristalinas. Mas cristalina será a aflição de todos nós se esta ajuda não vier.
Eu sei que o tema gera muita angústia e talvez não ganhe muito em ser trazido à praça pública.
Mas talvez o Governo escusasse de ser tão triunfante e a Oposição pudesse ser mais pedagógica!
*Analista financeira