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Assaltou-me este pensamento à medida que as trágicas notícias do desastre da Germanwings vinham a lume. Então e se o piloto fosse grego?
Não tenho dúvidas que nos assaltariam ideias do tipo: "pois, não admira, num país esfrangalhado!", "afinal aquilo sempre foi uma confusão, fogem aos impostos", "até inventaram uma ilha para justificar uns milhões de fundos comunitários". E por aí fora numa confusão de factos por comprovar ou de impressões engolidas à pressa diretamente do jornal mais próximo.
Nestas situações, o preconceito estereotipado vem ao de cima, e do fisco à construção ou à formação de pilotos, tudo se conforma a uma imagem prefixada, amplificada pela Comunicação Social e nunca suficientemente testada pelos recetores que somos todos nós.
Ao contrário, a falha fatal no sistema que custou a vida a 150 pessoas é vista como uma surpresa, uma exceção que contraria a lógica de um país que se tem como maquinalmente ordeiro e fora de qualquer tentação emocional que lhe possa causar incómodos ou, muito menos, erros grosseiros.
Diga-se, em abono da verdade, que a reação ao desastre honra esta visão de uma Alemanha assética e imune à falha. A companhia apressou-se a indemnizar preliminarmente as famílias das vítimas, procurando suavizar a fortíssima probabilidade de grandes perdas se provado for que o avião se despenhou por ação premeditada de alguém que não estaria no seu juízo perfeito - o que, ainda por cima, o seguro não comparticipa.
Por tudo isto, continuaremos a entrar sem grande medo nos aviões da Lufthansa e a hesitar em pôr o pé descansado nas linhas gregas. E no entanto, o piloto era alemão!
Nada de novo. Afinal, lembram-se da crise dos pepinos? E como a Alemanha se apressou, sem fundamento comprovado a atacar o mercado agrícola espanhol, tendo provocado mais de 200 milhões de euros de prejuízo? Não foi fácil acreditar, quando a toda-poderosa Hamburgo abanou um pepino que tinha sido testado positivo para a bactéria E. Coli? Só que não era a estirpe que tinha causado o surto...
O problema é que todos nós fazemos o mesmo a torto e a direito. Afinal o eng. Sócrates, só porque é o eng. Sócrates, não pode ter escrito o livro que publicou! Certo?