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“Temo que possa haver tragédias”, dizia esta semana o investigador Luís Moniz Pereira sobre o desenvolvimento desregrado da Inteligência Artificial (IA), longe dos olhares dos Estados, que parecem não querer pensar a longo prazo sobre a questão. Para além de questões como a manipulação das massas ou o desrespeito por direitos de autor, há que abordar o impacto no emprego. Com novas tecnologias, há trabalhos que se perdem e outros que se criam, mas que empregos se vão perder? Quem os vai perder? E quem perdeu poderá desempenhar outra função? “Não está estudado”, explica Moniz Pereira. Até 2030, só nos EUA, 2,4 milhões de trabalhos poderão ser eliminados e 11 milhões afetados pela IA generativa. Já vimos o resultado político de a globalização ter esquecido milhões de pessoas, que se revoltaram e abanaram a sociedade ocidental. Não podemos continuar a assobiar para o lado.
No Reino Unido, o cientista que a BBC apelida de o “padrinho da inteligência artificial”, Geoffrey Hinton, lembra que a tecnologia poderá a gerar riqueza, mas esse dinheiro não vai cair nos bolsos de quem perde o emprego. Hinton já recomendou a Downing Street que pondere criar um rendimento mínimo universal que evite uma convulsão social.
Mas ainda mais para lá da questão laboral, este pioneiro das redes neurais, que servem de base à IA, e que abandonou a Google para poder alertar a sociedade para os perigos destes sistemas se não forem regulados, coloca a questão no problema do “nível de extinção humana”. Se calhar era tempo de pensarmos sobre o tema. A nova legislação europeia que entrará em vigor nos próximos dois anos tem aspetos positivos, mas parece-me que só arranha a superfície do problema que vamos ter em mãos mais cedo que imaginamos.