Foi há seis anos que o país assistiu chocado à tragédia que vitimou 66 pessoas no norte do distrito de Leiria, colocando - pelas piores razões - Pedrógão Grande no centro da atenção mediática.
O que aconteceu no dia 17 de junho de 2017 (e nos dias subsequentes) mostrou o resultado do abandono do Interior do país, a que se juntou o colapso do sistema de proteção civil, populações deixadas à sua sorte e uma dor indescritível para quem viu familiares e amigos a perecer nessa ou por causa dessa madrugada e ainda a terra onde nasceram envolta em cinzas.
À data, foram muitas as juras e promessas que nunca uma tragédia daquelas voltaria a ter lugar e que não seriam poupados meios nem esforços a recuperar aquele território e a apoiar a sua população e que Pedrógão Grande e os concelhos limítrofes não seriam esquecidos. Poucos meses depois, a 15 de outubro desse mesmo ano, voltaríamos a assistir a um episódio similar, no Norte e Centro do país, perdendo a vida mais de 40 pessoas. A primeira promessa rapidamente se esfumou.
E nem a segunda promessa de apoiar o território e as pessoas que ali vivem, trabalham, estudam ou que o visitam se faria sem o inestimável contributo de milhares de pessoas que generosamente fizeram donativos para apoiar as vítimas. Razão pela qual a recente decisão de "nacionalizar" o fundo Revita, constituído com base na generosidade dos portugueses para a população afetada, é ainda mais incompreensível. Foram verbas doadas que deveriam ser destinadas exclusivamente a apoiar os territórios e as pessoas afetadas pelos incêndios de junho de 2017.
E a terceira promessa, de não esquecer Pedrógão Grande, teve agora um infeliz exemplo em como foram também palavras que o tempo levou. Foi erigido um memorial, adjudicado por quase dois milhões de euros, para homenagear as vítimas, que esteve desde início envolto em polémica devido ao valor em causa, que muito poderia ter sido de menor montante e o restante destinado a apoiar os concelhos atingidos e a sua população.
Soubemos esta semana, quando se assinalam seis anos desde o incêndio, que nem cerimónia oficial haverá para a abertura do monumento. É uma situação absolutamente chocante. E não o é, naturalmente, por uma questão meramente protocolar. É uma falta de respeito com as vítimas que se pretendiam homenagear. O poder político foi muito presente e vocal nos meses que se seguiram aos fogos, mas de ano para ano é desolador constatar que, entretanto, foi (quase) tudo votado ao esquecimento. Resta-nos a memória de quem não esquece.
*Jurista
