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Se tivesse de escolher entre duas bandeiras, não teria dúvidas: prefiro aquele fundo azul com doze estrelas douradas europeias, do que o verde e vermelho, com esfera armilar, escudo de cinco quinas e sete castelos português. É também uma questão de estética, mas é mais do que isso. É porque a primeira nos fala de uma ideia de futuro, da unidade e solidariedade entre povos, enquanto a segunda do que nos fala é da história de reis e de glórias passadas e, frequentemente, mal contadas. A europeia é hasteada ao som do "Hino à alegria" de Beethoven, a portuguesa sobe aos mastros acompanhada por apelos às armas e à marcha contra canhões. Da mesma forma, prezo mais a ideia de uma cidadania europeia do que a de uma cidadania nacional. Mesmo sabendo que, na arquitetura institucional atual, só tenho acesso à primeira por causa da segunda. E, portanto, que a bandeira e o hino europeus só me pertencem porque, por acaso do destino, me calhou nascer em Portugal, em vez do Bangladesh.
Da mesma forma, também não tenho dúvidas sobre o modelo ideal de governança europeu. À Europa de Nações, que é a que prevalece e se fortalece nestes tempos de nacionalismos exacerbados, divisivos e violentos, em que acaba sempre por prevalecer a lei dos mais fortes, prefiro a Europa das Regiões, baseada no princípio de descentralizar e aproximar, sempre que isso seja eficaz, os centros de poder, de decisão e de gestão dos cidadãos a que se destinam.
O presidente da República sugeriu, esta semana, um pacto de regime para a saúde. Mas o ponto de partida é sempre o mesmo, de cima para baixo, uma vez que o regime gravita em redor do Terreiro do Paço. Se este conjunto de territórios a que chamamos Portugal quer deixar de ser o parente pobre da União Europeia e resolver algumas das disfunções na saúde, educação, ambiente, mobilidade, pobreza e desigualdade, desenvolvimento económico, e até na segurança, o pacto de regime prioritário deveria ser no sentido de descentralizar e regionalizar. Eu sei que é um paradoxo. Mas que fiquem tranquilos os centralistas e/ou nacionalistas recalcitrantes: podem manter na velha capital imperial a gestão integral da bandeira, do hino e dos canhões, que pelos vistos são os símbolos que garantem a nossa soberania.

