Sendo claro o esforço realizado nos últimos anos na sensibilização da academia, lato sensu, para a importância de receber, com dignidade, os novos alunos que entram no Ensino Superior, é com tristeza e apreensão que continuamos a ver referências públicas a atos de indignidade para com alguns destes jovens.
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A universidade é um espaço único, com exigência de renovação constante, onde o ativo mais precioso são os alunos. É um privilégio ver chegar, em cada ano, uma nova geração de alunos com a mesma idade média, sendo que cada um de nós, naturalmente e pela lei da vida, tem mais um ano em cada um que passa. Acresce ainda o desejo supremo de que, no futuro, a geração que nos sucede seja melhor em termos de apreensão de conhecimento e capacidade de o transmitir. Porque se assim não for, também naturalmente a universidade deixa de o ser e definhará.
Por isso, estou de novo a lamentar e a protestar veementemente contra a manutenção de uma "suposta praxe", por muito que insistam na sua justificação em nome de uma qualquer mais do que lamentável "tradição". Porque continuo a ter muita dificuldade em entender como o insulto gratuito a um conjunto de jovens ajoelhados perante colegas mais velhos, normalmente trajados de capa e batina, com umas grandes colheres de pau à mistura, contribui para a sua valorização e integração. Tanto mais que tudo pode e deve ser diferente no acolhimento aos "caloiros". Há inúmeras atividades de integração que, sendo em muitos casos divertidas, animadas ou mesmo irreverentes, promovem a partilha da alegria desse momento único da vida desses jovens.
Porque não quis ficar apenas por métodos narrativos e retóricos, desafiei pessoalmente o líder da associação académica da UTAD a fazer da receção aos caloiros na nossa academia não apenas uma referência, mas sim o exemplo a seguir. A dimensão da universidade com cerca de 7000 alunos, a beleza e enquadramento do seu campus único, integrado numa cidade média como Vila Real, abrem essa possibilidade de forma clara. Porque acredito que essa será também uma forma de ajudar a valorizar a universidade no futuro. Senti uma enorme vontade de aceitar este desafio que lhe coloquei, mas ainda com algum receio na adesão dos habituais líderes dos clichés de "conselhos de veteranos" e similares. Será uma pena, senhores!
* PROFESSOR CATEDRÁTICO, VICE-REITOR DA UTAD