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Se continuarmos a ceder por inércia, corremos o risco de a nossa identidade digital deixar de nos pertencer. Exigir o respeito pelos nossos dados tem de começar por um princípio simples: o direito a escolher.
Por mais rigorosas que sejam as leis de proteção de dados e as políticas de privacidade, a realidade é que os nossos perfis digitais – as páginas de que gostamos, os likes e partilhas que fazemos, os sítios onde vivemos, os nossos amigos e interesses – continuam a ser usados de forma abusiva e, muitas vezes, ilegal. Basta recordar o escândalo da Cambridge Analytica, em 2018, quando se revelou que os dados de 87 milhões de utilizadores do Facebook tinham sido vendidos e usados para fins de manipulação política. A desinformação disseminada por essa operação também contribuiu para a eleição de Donald Trump e para a vitória do Brexit no Reino Unido.
Hoje, apesar de estarmos mais conscientes, permanecemos surpreendentemente passivos. Preocupamo-nos com a privacidade, mas não tomamos medidas eficazes. Dados recentes da União Europeia mostram que apenas 36% dos utilizadores leem as declarações de política de privacidade antes de fornecerem dados pessoais.
Com a chegada da inteligência artificial, os riscos crescem. A dona do Facebook, Instagram e Messenger anunciou que passará a usar todos os conteúdos públicos dessas plataformas para treinar os seus modelos. A menos que o utilizador manifeste oposição. É aqui que reside o verdadeiro problema: a inversão do princípio do consentimento. Não devia ser o utilizador a ter de pedir para sair, devia ser a empresa a pedir autorização para entrar. É tempo de reequilibrar a balança.