Economia de missão: um (novo) guia para a Europa
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2025 será um ano de decisões inadiáveis. Portugal e a União Europeia (UE) encontram-se numa encruzilhada. Com a nova Administração americana, chega a promessa de tarifas, o regresso de políticas protecionistas e o afastamento de parcerias multilaterais: do acordo de Paris à Organização Mundial de Saúde. Para não falar nas pressões sobre a NATO - os "pedidos" do presidente Trump, para os gastos em defesa dos aliados, podem ascender aos 5% do PIB.
Estas ameaças produzirão impactos múltiplos. Mas estas não têm de condenar o Velho Continente a um caminho de contração económica e de irrelevância política mundial. Para os otimistas, as ameaças constituem a oportunidade para romper com o estado de dormência dos últimos anos. 2025 poderá marcar o pontapé de saída para uma nova forma de pensar a economia, que resulte numa UE mais coesa, próspera e autónoma. O que deverá estar no centro desta forma de pensar? A inovação, como fator-chave para alavancar a competitividade dos estados-membros: com investimentos em indústrias de alto valor acrescentado, como da aeronáutica, da farmacêutica, dos semicondutores. Mas também na modernização de setores mais tradicionais - como tem acontecido com Portugal, ao nível do calçado e do agroalimentar.
É lícito afirmar que a Inovação já é um tópico consensual, à boleia do debate sobre as necessidades de reindustrialização da Europa, conforme documentado no relatório Draghi. Agora, como próximo passo, é preciso pensar no desenho das políticas de inovação. Nesse sentido, importa olhar além dos pressupostos rotineiros. Tornar a economia Inovadora através da prossecução de missões poderá constituir um (novo) caminhos.
Na cena internacional, as políticas de missão têm vindo a ganhar destaque, por não se centrarem apenas em produção e produtividade, mas por abordarem falhas de direcionalidade, orientando o crescimento económico para superar grandes desafios contemporâneos: alterações climáticas, combustíveis fósseis, lixo nos oceanos, a crise das democracias ou as migrações. O modelo concetualiza um Estado mais proativo, e uma administração pública qualificada, que colabora com entidades privadas para a construção de missões, numa verdadeira partilha de riscos e recompensas, para abordar esses desafios de caráter transversal.
Como passo inicial, será importante que os stakeholders implicados se alinhem em torno de uma visão e de objetivos estratégicos, para que a Europa reforce a sua autonomia, e cresça de forma sustentada e sustentável.