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As medidas decididas pelo Governo, bem como aquelas que foram forçadas pelo Parlamento contra a vontade do Executivo (o alargamento do IVA a 6% na eletricidade e o fim das portagens nas ex-scut do interior são paradigmáticas), ostentam todas uma placa com a inscrição “despesa”. Luís Montenegro, juntamente com a restante equipa governativa, chegou ao poder há menos de dois meses e esse facto merece, só por si, que se conceda o benefício da dúvida.
Do ponto de vista de quem se preocupa mais com o médio e longo prazos, é sempre importante que surjam medidas do lado da receita para que uma nova troika não compre passagens de avião para Portugal. É verdade que nem tudo é 100% despesa sem retorno para a economia. O caso do IRS jovem e até dos incentivos ao alojamento local podem acrescentar, na realidade, receita de impostos e de contribuições para a Segurança Social. Segurar ou até incrementar negócios ligados ao turismo e cativar os mais novos a ficar no país são medidas positivas, mesmo que à cabeça isso signifique abdicar de receita imediata.
Neste contexto, não deixa de ser relevante que um grupo de oito empresários tenha escrito uma carta aberta ao Governo a pedir um tratamento fiscal mais justo dos trabalhadores. As empresas só sobrevivem, crescem e tornam-se produtivas se o seu capital humano for valorizado. A um maior esforço deve corresponder um incentivo do empresário e, simultaneamente, do Estado, na sua qualidade de cobrador de impostos. Caso contrário, o assalariado sentirá que o seu esforço é mal compensado. A justa distribuição de riqueza só é mais facilmente alcançável se patrões e Governo remarem para o mesmo lado.