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A economia portuguesa cresceu uns fantásticos 2,3% no ano passado. Já o crescimento médio anual dos países da União Europeia (UE) e também da Zona Euro foi de apenas 0,5%. Arrasamos e... mais nada? Há uns pequenos pormenores a acrescentar. Somos um dos sócios do clube dos pobres da UE e, por isso, deveríamos crescer ainda mais para alcançar o atual nível de vida da Alemanha ou dos nossos parceiros nórdicos.
A China também deve crescer o dobro dos EUA em 2024, mas quer isso dizer que o “Império do Meio” é mais rico do que a economia norte-americana? Segundo o Banco Mundial, o PIB per capita norte-americano, medido em paridades de poder de compra, é 3,5 vezes superior ao chinês. Apesar de termos pouco eco no Ocidente sobre o que se passa internamente na China, podemos supor que os dirigentes políticos também capitalizem o facto de o país ter uma economia de elevado crescimento.
A questão de “benchmarking” (referencial para efeitos de comparação) é abordada de forma científica num estudo da Faculdade de Economia do Porto que foi agora divulgado. Ficamos a saber que, se a economia portuguesa tivesse crescido ao mesmo ritmo da média simples dos países da UE desde 1999 (2,4% ao ano em vez de 0,9%), o nível de vida seria, em 2022, equivalente a 99,4% da UE, ocupando então a 12. e não a 20. posição que veio a verificar-se. Ou seja, quando o referencial é baixo, corremos o risco de ficarmos contentes com pouco, acomodando-nos.
A questão é que os sucessivos governos PS ou PSD têm usado como referencial a média das taxas de crescimento dos países da UE ponderada pelo peso de cada economia no PIB conjunto dos 27 estados-membros. Não foi uma invenção portuguesa, é verdade. As próprias instituições europeias optam por apresentar os dados dessa forma, isto é, dão um sempre peso diferente a cada país no conjunto do PIB da UE.
Quando países que têm uma economia de grande dimensão e com elevado nível de vida - caso da Alemanha, Itália e França - entram de forma ponderada na média europeia acabam por puxar a mesma para baixo. Porquê? Porque não crescem a ritmos elevados, como é natural em países com melhor distribuição de riqueza. A China pode orgulhar-se, tal como Portugal, de ser um campeão do crescimento, o que em nada ajuda os quase 800 milhões de pobres do país. No caso português, estamos a falar de dois milhões de pobres e de uma classe média esmagada pela inflação e pelos juros altos. A dívida pública está abaixo dos 100% do PIB e a economia cresce muito acima da média europeia? Os bons indicadores ainda não chegaram às famílias.