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Portugal continua a ser um país marcadamente assimétrico e quiçá por isso se perceba o crescente défice da educação nos discursos políticos que em plena campanha para as eleições legislativas se fazem ouvir. Se nos programas eleitorais esta área é secundarizada, já nas entrevistas, declarações públicas e outros fóruns deveria ser enaltecida convenientemente. Mas não é essa a premissa defendida!
Adeptos dos ataques pessoais, escolhendo argumentar sobre o que é irrelevante, os candidatos ofuscam a educação com desplante de pasmar os portugueses, olvidando a essencialidade e a elevação nos discursos que cativem e respeitem os eleitores. Poucos entendem o não aproveitamento desta área fundamental por parte de quem tem ambições de governar um país sedento de recuperar valores e atitudes, que se extinguem gradualmente numa sociedade onde o humanismo, a cultura e o conhecimento devem importar sobre quaisquer outras distrações menores.
A escola pública necessita de ser revitalizada, alicerçando-se na contínua valorização da carreira docente, na revisão do currículo alinhando-o com a realidade, na melhoria das condições de trabalho do pessoal não docente, na requalificação das mais de 500 escolas a clamar por obras, para além de diversas outras alteração capazes de catapultar as oportunidades e a qualidade das aprendizagens.
Urge encarar cada criança ou jovem como um projeto seguro de futuro, e não como um número só para as estatísticas. Falta compromisso com a formação humana - aquela que transcende rankings e reconhece que aprender também é sentir, pertencer, criar e ser feliz.
É a altura de repensar o papel da Escola na sociedade. Mais que ensinar conteúdos, cumprir os programas, ela quer formar cidadãos capazes, desenvolver a empatia, o sentido crítico e a capacidade de sonhar.
Tudo isto resulta do ato de investir com o coração. Ouvir e acarinhar professores e alunos, entender as múltiplas realidades das comunidades educativas de um país que constrói o futuro aproveitando as suas especificidades, fazendo a diferença com uma escola multicultural. A educação não se faz só com tecnologia ou metas - faz-se com pessoas que necessitam de ser apoiadas, estimadas e inspiradas.
A dois dias do final da campanha, faço votos para que os ventos sejam de feição, e se eleja a educação como um dos temas fortes para o qual possam ser apontadas ações enérgicas dos atores políticos do presente.
Educar é um ato de amor. Que os políticos queiram ser aprendentes ativos nesta lição.