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Cada vez menos pessoas conhecerão (e compreenderão) o ditado segundo o qual as “águas passadas não movem moinhos”. Assim sucede, desde logo, porque os adágios vão caindo em desuso, mas também porque os próprios moinhos se tornaram anacrónicos e quase tão irrelevantes como os comentadores e os analistas da realidade política nacional.
As pessoas de 50 anos não viveram em ditadura. Os jovens que hoje têm menos de 30 anos não conheceram o Bloco do Leste ou a Cortina de Ferro, e ignoram o significado dos dualismos esquerda-direita ou progressismo-conservadorismo, se calhar porque ninguém lhos explicou. A escola devia servir também para isto, mas é evidente que fracassou no ensino da História, na transmissão de valores éticos e no estímulo do pensamento crítico. Nada disto aconteceu por acaso e houve até momentos em que a degradação da Educação pareceu deliberada.
Para as gerações mais novas, a generalidade das elucubrações teórico-políticas vertidas em jornais, revistas e canais de televisão hão de, consequentemente, assemelhar-se a peças empoeiradas em velhos museus de antropologia. Mesmos os órgãos de comunicação social tradicionais foram há muito substituídos pelas redes sociais e pelos canais de Youtube; um sketch humorístico do Diogo Batáguas deve ser, para os eleitores menos idosos, mais esclarecedor do que seiscentos artigos de opinião produzidos pelas egrégias irrelevâncias que procuram explicar “a maioria de direita” ou “a transferência de voto do PCP” (que deve estar apenas relacionada com a finitude do ser humano).
Se os maniqueísmos do comentário político não fazem hoje qualquer sentido para uma parte cada vez maior da população, é também evidente que o próprio discurso dos políticos, amarrado aos mesmos atavismos, tende a afastar os eleitores da vida cívica e obriga-os a procurar respostas que os partidos tradicionais, por norma, não oferecem. Estes, se não mudarem radicalmente, estarão também condenados a desaparecer – como o latim, os dinossauros ou a civilização asteca.